Não, não é engano – é o Sol, a Chave XIX do Tarot, quem nos visita de novo esta semana, tal qual na semana passada. Podemos pensar, ou interpretar este fato, de várias maneiras. O que é no mínimo interessante, porque convenhamos que, das 78 lâminas do tarot, a chance é pequena de que, por duas vezes seguidas, saia a mesma de dentro do baralho. Pensando nesta Chave em particular, podemos pensar que novas oportunidades para viver o que ainda não aprendemos a viver surjam por entre os dias que se aproximam, e podemos pensar que o que foi proposto na semana passada, quando o Sol também estava centralizado nesta minha mesa, não foi completado. Ou compreendido. Ou suficientemente trabalhado. Podemos pensar também que novas oportunidades para solucionar problemas, resolver intrigas e iluminar questões estejam mais uma vez em cena, como uma segunda chance para sair de uma crise.
Eu não sei se você sabe, mas estas leituras semanais não são feitas de uma só carta, e por isso este Sol não é o mesmo Sol da semana passada. Há outras presenças na mesa, a cada semana, e é da conversa entre o Sol, a Chave principal da semana, e essas outras presenças, outras Chaves que o acompanham, que eu teço os detalhes da semana, aquilo que nos é mais propício e aquilo que tende a nos desafiar mais. Vamos a essa conversa.
Já sabemos que o Sol é vida, é brilho e é alegria. Um dia ensolarado carrega uma energia diferente de um dia nublado ou chuvoso, daquele tipo que pode nos facilitar a entrada em tudo o que seja mais introspectivo. Um dia de sol nos puxa para fora de casa, nos faz pensar em praia, cachoeira, a vida fora de casa, enquanto nos enche também a casa de luz e de calor. Pode ser que às vezes, calor demais. Às vezes, luz demais.
Por isso, esta tende a ser uma semana que nos puxa pra fora, mais uma vez. Não só para fora de casa, mas para fora de nós mesmos. E por isso tudo aquilo que acontece do lado de fora está em evidência, e por isso o Sol, que é uma carta por demais benfazeja, seja um momento de grande disponibilidade de alimento. A questão é: alimenta-se o que, alimento disponível para que e para quem. Alimentam-se guerras, alimentam-se estados de ilusão, alimenta-se toda sorte de situações na vida humana e na vida planetária. Portanto, é preciso prestar atenção, em nosso pessoal microcosmos, do que estamos nos alimentando, e largamente, e que tipo de alimento estamos tornando disponível para o mundo, para os outros, para quem está ao nosso redor. Como bons agricultores, temos uma fartura grande de pensamentos, palavras e gestos. Pense em tudo isso como o celeiro que alimenta quem está ao seu redor.
É interessante que esta Carta se repita duas semanas consecutivas, porque podemos olhar para nós mesmos e pensar (neste caso): onde foi que eu me perdi, na semana passada, no fora-de-mim? Onde foi que o excesso se manifestou, onde foi que eu esqueci de cuidar\olhar\perceber coisas do lado-de-dentro-de-mim e me deixei de lado, me deixei ofuscar pela luz de fora, pelos compromissos, pelos eventos externos, pelas dificuldades e necessidades e pedidos e desejos dos outros? A repetição desta Carta (e desta carta em particular) pode nos ajudar demais a repensarmos nossos gestos, nossas escolhas, nossas decisões, nossos caminhos do dia a dia. O alimento que tornamos disponível para os outros, e o alimento de que nos servimos na mesa farta que o mundo (os outros) oferece.
Enfim. Posto isto, vejamos o que o Sol desta semana nos propõe – muito, mas muito provavelmente, lugares onde lançar sementes, lugares onde se pode ser fértil, ainda que não pareça, ou ainda que pareça pouco. É uma semana bastante propícia a inícios, a começos, sobretudo se esses inícios precisam de visibilidade, e se aquilo que vai se iniciar está já no ponto. Como se a semana fosse a hora certa para tirar o bolo do forno, no seu ponto exato de cozimento.
É preciso um certo cuidado com a vontade grande que pode surgir de enroscar a alma em um cobertor e não sair de dentro de casa, tornando a pessoa avessa a se relacionar com a energia luminosa que rege a semana. Porque, veja: o Sol incide sobre todos, e para alguns o momento é de um jeito e para outros o momento é de outro. Cada um terá o Sol que mereça (ou seja, tenha construído), e é possível que surja um grau de prostração, de pessimismo, e mesmo de delírio, de ilusão, o pensamento que começa a perder-se. Por muitas intuições que você tenha, e por muitas mensagens que sinta receber, tenha um pouco de cuidado. É preciso uma dose grande de realidade, e de trabalho manual cuidadoso e lento, para saber separar ilusão de intuição, e para compreender de onde você intui o que intui. Atenção às superstições, à falsidade vestida de realeza, às palavras bem tecidas que revestem um eixo vazio e inerte, aos egos que tendem a inflar diante do sol do meio dia da vida e parecem nobres, mas não são.
Lembre-se de que, assim como o dia nasce, ele também morre. Que cada dia é seguido por outro, e que nada dura para sempre, nada estará sempre do seu lado, a não ser o trabalho que você faça com você mesmo. No final de tudo, é você, a sua consciência, o seu coração, e os passos que você deu na estrada que escolheu trilhar. Que a semana alimente essa estrada, alimente seus passos, alimente a sua vida com a Luz que é necessária à sua evolução. Nem mais, e nem menos. A justa medida.