Tempos de exigência

Descolar-se de ritos antigos e inventar novas maneiras de estar e ser junto ao próximo e, ao mesmo tempo, adquirir serenidade e contentamento. Nada fácil. Consulto astros e cartas, e todos são unânimes. É preciso mudar a maneira de estar onde estamos.

E são precisas, mesmo, serenidade e contentamento, lugares que se conquistam com paciência, respiração e outra vez paciência. Para quem anda razoavelmente afinado com as mudanças que o planeta atravessa, física, emocional e moralmente (no mínimo), além de saber que é preciso mudar, sabe que são tempos de exigência, para os quais é preciso estar alerta e acordado. Há instruções claras circulando. Exigência deriva de ser capaz (ou dever mesmo) fazer para fora, para o lado de fora. Ex-agere. Portanto, pouco importa o que façamos deste nosso lado de dentro, nossos movimentos e buscas internos, que nos levam à glória de acharmos que algo fazemos. É para fora que precisamos fazer, essa é a exigência.

A urgência da entrega, do silenciamento da nossa vontade, da entrega ao que precisa ser feito já bateu à porta. Entre vontade e desejo, o que escolher? O que é uma e o que é o outro, e (sobretudo) como distinguir entre ambos? A vontade nasce de um impulso genuíno do ser, da alma – a vontade maior que propulsiona uma escolha de caminho na vida, por exemplo. Resiste a hecatombes, a maremotos, àqueles que advogam contra, aos argumentos que querem dissuadir. Os desejos, não. Os desejos são leves como plumas e instáveis como marés; são como prisões, coisas que devem ser temporárias, e não moradias onde nos tornamos casa. Vão e vêm, ao sabor desse senhor que nos ocupa tanto e que responde pelo nome de ego. Esses desejos estão aqui a tempo inteiro, parece. Ocupam praças e esquinas, sem nenhum pudor. De vez em quando, provocam irritações. Impaciências. Querem agora, já, não têm paciência nem respeitam o senhor do tempo. E às vezes vencem, em vez de nós os vencermos, e a irritação que fazem brotar é, com absoluta certeza, seu maior troféu. Ainda por cima.

E estamos chegados aos domínios em que é preciso ser transformado por completo, e preparar-se para ser transformado novamente. A renovação demanda que a pele velha seque (se é que já não está seca) e caia, e que a nova possa vestir o novo corpo. Isso dificilmente ocorre sem dor e incômodo, porque o que o ego menos quer é perder seu lugar de poder e do que menos gosta é de que nos transformemos à sua revelia.

Há que respirar e perdoar-se, sem dúvida, por tropeçar uma e outra vez no mesmo cascalho. Mas há que parar de tropeçar também, e com isso parar de perder tempo. Porque o tempo, não nos esqueçamos, acaba. E não demora.