Muitos dos meus amigos hoje em dia respondem-me pequenos gestos que faço com a palavra “gratidão”, em vez do costumeiro “obrigado”. Se por um lado me agrada (gratidão é uma palavra bonita, e o sentimento de ser grato colore os lábios de sorriso), por outro me incomoda essa rejeição ao dizer-se obrigado. Triste, quando palavras correm risco de morte.
Gratidão deriva do latim gratus. Uma forma que vem lá de muito longe, quando oriente e ocidente ainda se fundiam na língua indo-europeia. Diziam eles gwer- quando queriam elogiar ou dar as boas-vindas. Gwer- transformou-se em gratus, e seu significado foi se transmutando até gerar o corrente: algo agradável que se agradece. Dá-se as boas-vindas a uma ação do outro que nos é agradável. Por isso o sorriso nos lábios, acompanhado do coração aquecido.
Obrigado também nos chega via latim. Obligare. Palavra composta por ob e ligare. Ou seja: unir (ou atar) a. (Assim como o re-ligare é ligar-se novamente a algo, e dele recebemos como herança a palavra religião.) Quando dizemos obrigado, unimo-nos a alguém, um alguém com quem temos agora uma relação de laço de retribuição. Pressupõe que aquela graça que recebemos (e pela qual somos gratos) se desdobrará em algo que entregaremos nas mãos de quem nos fez bem.
Eu gosto de dizer obrigada. Muito, até. Gosto dessa criação de vínculo, dessa sensação de que algo em mim se liga e ata ao outro, e me faz entrar em relação. Deixo a gratidão dentro de mim, naquele lugar luminoso onde vivem as boas-vindas àquilo que vem por bem, e expresso-a através do meu obrigada, que quer levar até o outro o mesmo bem que ele fez em mim. Ou então dar graças, pela existência minha e do outro, pela possibilidade do encontro – que nos faz criar esse vínculo em que estamos obrigados à construção de humanidade para não sucumbirmos num mundo sem forma. Por isso, em gesto de gratidão, eu digo: obrigada.
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