O mês de setembro abre com uma das cartas mais envolventes do baralho, o 2 de Copas. Sede do amor mais puro, este Arcano nos fala, antes de mais nada, de apreciarmos a nós mesmos para podermos apreciar o resto do mundo. O elemento água parece dominar a semana, o que nos fala de sentimentos, do mundo da alma, de como nos deixamos fortalecer ou levar pelas águas que podem nos inundar.
E água é quase tudo nesta vida. 70% de nós mesmos e 70% do nosso planeta é feito de água. Por muita dureza que encontremos pela frente, as águas em nós nos permitem sermos mais maleáveis, menos duros, nos auxiliando a passar por onde quer que seja. A água sempre encontra caminhos, mais cedo ou mais tarde. A água limpa, transporta e alivia a secura do mundo, bem diz o ditado que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.
O 2 de Copas tem, no entanto, um tendão de Aquiles, uma fragilidade, e essa fragilidade chama-se ingenuidade. Uma coisa é ser inocente e puro, como é uma criança que engatinha até o que chama a sua atenção, espontânea e abertamente. Outra diferente é ser ingênuo, quando supomos não sermos alterados por forças externas. O que, convenhamos, é justamente uma ingenuidade, porque as forças externas nos alteram constantemente, e se não estamos atentos a elas, com discernimento e verdadeira apreciação de si, somos levados para onde não queremos, e sem sequer percebermos.
Essas forças externas, esta semana especialmente, chamam-se matéria. O risco é, estes dias, de estarmos excessivamente confiantes ou dependentes da matéria, podendo ou acumular desnecessariamente, achando que a matéria nos salvará, dando-lhe excessiva importância, ou gastar estupidamente – um e outro caso nos farão perder o real sentido das coisas. A preguiça provavelmente precise ser combatida, e também provavelmente esteja mais ligada a desatenção que a qualquer outra coisa. A preguiça de olharmos para o que precisamos mudar, para o que precisamos corajosamente mudar, é o tendão de Aquiles da semana. Num ambiente tendendo à água, a terra poderá tender a ser negligenciada, como se de repente permitíssemos que as águas de um rio comessem as margens – perceba que são as margens que dão direção, muito embora as águas do rio possam se sentir limitadas por elas. É esse limite (que podemos por indolência negligenciar) que garante que o mundo dos sentimentos não invada tudo, pondo também tudo a perder.
Preste atenção, com bastante amor por si mesmo, nas guinadas que talvez a sua vida material precise dar. Preste atenção a tudo aquilo que, em termos de matéria, lhe faz perder a sua auto-estima, e consequentemente a sua boa energia. Onde você gasta demais – seja dinheiro, seja qualquer outra forma de energia. Conter os excessos depende na maioria das vezes de nós mesmos, e criar padrões de economia de energia é o que melhor podemos fazer.
Existem pessoas mais apegadas, e pessoas menos apegadas, e aqui não se trata de desapegar, mas de racionalizar e perceber que é preciso ter uma constituição robusta para que as águas sentimentais não nos esburaquem, não causem erosões nem assoreamento em nossa alma. Revise os seus gastos, revise os lugares onde você deposita e hipoteca as suas forças físicas, e alegre-se pelos passos que você consegue dar neste mundo, com consciência. Se por acaso você perceber que é preciso dar uma virada no seu tabuleiro de jogo, alegre-se por isso. Todas as notícias que poderíamos interpretar como negativas esta semana, no mundo da matéria, são provavelmente promissores auxiliares de novos caminhos. Não perca tempo culpando ninguém, sobretudo culpando a si mesmo, e nem reclamando da sua sorte. Também isso seria uma imensa ingenuidade, porque o importante, agora, é olhar em frente, e permitir que toda a água que permeia a semana passe suavemente por entre as rochas, por cima dos empecilhos, soltando com leveza os embaraços dos muitos galhos e troncos que deixamos acumulados em nossas margens. Eu lhe desejo que as decisões da semana sejam boas e desejo que também as águas do mundo acolham todas as embarcações que seguem, por todos nós, rumo à reconstrução da nossa humanidade.