A propósito da exposição de Paula Rego

Diante dos quadros da portuguesa Paula Rego, diante de seus pesadelos particulares, suas dores feitas cor, seus desesperos e despreparos transformados em imensas telas preenchidas por pastel, não desapareço na sensação imediata de inutilidade da vida prática. Não me culpo nem me angustio pela percepção rápida de que, além da arte, além da tentativa desesperada de dar sentido aos fantasmas visíveis por entre as cortinas fechadas, não há mais nada. A onda a agigantar-se na vida de milhões, arrastando as vidas ao lado das casas, a morte à porta da escola, dentro dela, mais incompreensível e repentina que todas as demais, as pequenas mágoas cotidianas, as minúsculas causas, as mesquinhas preocupações com os prédios que crescem ao redor do próprio umbigo – o que são, todas essas coisas, a não ser o nada vazio que fica quando nos escaparmos deste estado? O que são, além de motivos e pretextos para que caiamos dos monumentos em que nos instalamos?
Ouve-se o grito silencioso preso em cada quadro. A imobilidade cheia de tensão em cada figura agarrada a cada tela. As pernas, os olhares a direito, o meu próprio grito que quer escapar mas não pode. O estado de silêncio imóvel garante: ao virar da esquina, a vida também vira. E todos estamos preparados e de punhal na mão para nos defendermos do passado caso ele queira alimentar-se da nossa saudade. Se nos lembrarmos, o punhal presentifica-se.
Por sorte, muita sorte, imensa sorte, os dias transformam-se em cristais de infinita leveza, com os que se suporta o inesperado, o atrasado, o peso meu, nosso, dos outros. Recriam-se leves, precisos, da exata medida do calor que se faz caminho entre dois. Os mais antigos, os que parecem novos, os que sempre se reinventam e se permitem, os de outros tempos retomados, os dias em que fascinados nos olhamos olhos nos olhos e percebemos o tempo dedicado, a sincronicidade perfeita dos tempos e dos amores todos. Não é preciso encarar as saídas alheias que se inventam para o que dói da vida quanto tudo é diferente, porque de repente ao redor tudo ficou agrupado e foi colhido. É possível desvestir-se das peles previsíveis e permitir novos encontros. Como se o dia fosse uma longa passarela automatizada num aeroporto tranquilo, sem pressa, ninguém em risco de perder seu voo ou extraviar sua mala. Nas paredes, em todas elas e de todos os lados, Paula Rego  ri-se e subverte a ordem que tentei dar ao meu mundo.

Até dia 5 de junho, na Pinacoteca do Estado, Praça da Luz, 2 – São Paulo.

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