Podemos pensar neste Arcano, o 3 de Paus, como fogo fertilizado. Não o fogo que gera a ideia, ou que ilumina a escuridão, mas o fogo fértil, que promove caminhos, que dá início aos movimentos e às coisas. É o tipo de fogo que nos faz olhar para nós mesmos e para os nossos desafios com mais confiança, com mais percepção da nossa capacidade. Os nossos valores, as nossas potencialidades, aquilo que sabemos fazer bem – tudo isso tende a se tornar mais claro e acessível na presença do 3 de Paus, porque ele indica exatamente isso: fogo já manifesto, portanto visível e ativo. Para aqueles que estão diante de um portal a atravessar, seja de qual tipo for, a semana parece bastante propícia.
Retomar hábitos do passado, ou deixar se envolver por problemas que no fundo já foram ultrapasados, é um dos problemas deste arcano, seu tendão de Aquiles, seu ponto fraco. Voltar a queixar-se de situações que já foram entendidas, cair nas lamentações de sempre, abandonar as escolhas saudáveis que se fizeram nos últimos tempos, tudo isso precisa ser mantido na nossa zona de atenção.
O 3 de Paus tem uma mensagem forte. Ele fala dos patamares elevados em que colocamos os nossos valores, os nossos princípios e consequentemente o nosso comportamento, e nos oferece a energia necessária para confiarmos em nós mesmos, e na nossa capacidade para estarmos à altura desses valores e princípios. É uma carta de certa forma extraordinária, porque nos auxilia a manter e perseverar no mais elevado que tenhamos nos proposto. Portanto, esta semana pode representar um alívio para aqueles que têm se sentido fracos, que têm desacreditado de si mesmos, das suas escolhas, das suas vidas, dos rumos que tomaram. Um alívio porque auxilia a reafirmar que as escolhas feitas foram, muito provavelmente, as melhores que poderiam ter sido feitas.
A contraparte desse fator que chamo de extraordinário, é que também é possível que, ao longo da semana, possamos nos decepcionar conosco mesmos, e pode ser uma decepção extraordinária. Porque dissemos, ou pensamos, ou fizemos alguma coisa que não faz parte do que consideramos ser bom e correto, ético e verdadeiro. É importante observar esses momentos e não repassar a culpa a ninguém. Não se engane com o recurso de pensar que disse, fez ou pensou algo que lhe parece ruim por causa das circunstâncias ou dos outros. Não. Foi o seu pensar, o seu sentir ou o seu agir, e está tudo bem. Vá até o ponto central, em seu interior, entenda o porquê, respire, perceba o que pode ser feito para reparar o que foi feito, dito ou pensado, e perdoe-se. Nos tempos que vivemos, e talvez em qualquer tempo, perdoar-se é algo difícil de fazer. As altas expectativas que temos sobre nós mesmos podem nos fazer tropeçar e cair várias vezes. Porque somos humanos e porque estamos vivos, porque erramos e porque temos capacidades de nos reerguer e compreender que sim, não somos perfeitos, somos tal qual todos os humanos que nos rodeiam, que também podem perdoar-se e seguir em frente.
É preciso um certo cuidado com limites, para diminuir as chances desses tropeços e quedas. Manter-se atento a quais são os limites – do ouvido do outro, do lugar que se ocupa, do até se pode ir – pode ser algo realmente importante esta semana, porque a tolerância para exageros, para transbordamentos e também para ingenuidades, é pouca. Por que ingenuidades?, você pode estar se perguntando… A ingenuidade, etimologicamente, é aquilo que se acredita não ser alterado por forças externas. As nossas ingenuidades podem nos levar a crer que o outro, o mundo, o que está fora de nós, não terá impacto sobre nós. Este seria um erro bastante grande da semana, e por isso há que considerar sim de que maneira o fora de nós impacta o dentro de nós. Não sejamos ingênuos.
Por fim, a semana apresenta-se plena de recursos para que não nos desviemos do nosso rumo, nos oferece doses grandes de determinação. Cabe-nos escolher usá-las, é claro, e de preferência sem arrogância (outra possibilidade de tropeço e queda).
A semana pode significar o alcançar de sucesso após um longo tempo de batalha e luta. Que esse sucesso não signifique o aniquilamento de nada nem de ninguém, mas o fortalecimento da capacidade generosa do ser humano. Que esse seja o fogo que fertilize e aqueça os nossos corações.
