3 de Paus

O 3 de Paus é uma carta bastante agradável e calorosa. Nos abraça em sua luminosidade, e nos prepara para uma semana em que prestar atenção a si próprio e às circunstâncias ao redor pode ser muito proveitoso. Digo “prestar atenção a si próprio” e penso no lugar que cada um ocupa e de que forma o ocupa. Este arcano tem uma relação estreita com a dignidade de ser quem se é. De manter e nutrir altas expectativas em relação a si próprio, saber observar-se e conduzir-se de acordo com elas.

Por isso, é propício, nesta semana, separar um tempo diário para observar se nossas palavras, nossos atos e nossos pensamentos correspondem à alta imagem que temos de nós. Se a maneira como nos movemos pelo mundo, como interagimos com os demais ao nosso redor, como tratamos aquilo que é nosso e aquilo que é do outro, expressa o que, em teoria, gostaríamos de ser e representar no mundo. Também por isso, a pergunta “O que preciso mudar em mim?” é uma pergunta útil esta semana. Uma coisa de cada vez, sem querer fazer grandes tempestades, com a calma e o calor que o 3 de Paus oferece. Não é preciso bater com a cabeça na parede, o coração pleno de remorsos e arrependimentos, e nem de soltar uma dúzia de rojões pelo tanto que se acha que se conseguiu – o importante é observar, sem grandes julgamentos. Não é questão de ser uma boa ou uma má pessoa: é questão de tornar-se aquilo que mais se deseja ser, considerando que o caminho é ascendente, e é para se ser a cada dia melhor, importando mais o caminho e suas curvas do que a linha da chegada. Foi possível? Ótimo. Não foi? Reconheça o que foi feito e o que não, registre, respire, e siga em frente. Olhando em frente, e não para trás, abrindo mão de fazer julgamentos. Você não é uma boa OU uma má pessoa – você é uma pessoa, e a bondade e a maldade habitam você igualmente. A dignidade vive na escolha que é feita, a cada dia, de nutrir a bondade e manter a maldade sob domínio e controle.

Manter o pensamento no passado, seja ele digno de orgulho ou não, pode atrapalhar bastante. O importante, para esta semana, é registrar o que há a melhorar (uma coisa de cada vez talvez seja mais produtivo) e colocar-se a caminho. Sem esquecer de respirar, profunda e conscientemente, lembrando que, se os pulmões ocupam o centro do nosso corpo, não é à toa. São eles que fazem as mais poderosas trocas, a tempo inteiro, entre o nosso interior e o exterior. Mantenha a calma, respire bem.

Cuidado, atenção e cautela com o orgulho que cega – o orgulho que segreda em seu ouvido que você pode sim ultrapassar aquele limite, que nada nem ninguém o impedirá de fazer o que sua mente já o convenceu a fazer. Atravessar limites dos quais você não é digno deixará você em situação de perigo, porque não há dignidade na sua ação.

Esta palavra, digno, tem uma origem antiga. Vem, até onde sabemos, do indo-europeu DEK, que significa “tomar, aceitar”. Digno é aquilo que podemos tomar e aceitar. Podemos, porque temos valor, porque somos adequados, porque somos compatíveis. Ser digno é ter valor, e valor é aquilo que é forte.

É possível que haja renúncias a fazer esta semana. Diante delas, há duas opções. Tomá-las como sacrifícios, e por elas sofrer, e eventualmente fazer outros sofrerem, ou tomá-las como nossas entregas voluntárias e espontâneas diante do que é ou não digno. Eu não preciso me martirizar para renunciar a algo. Eu posso apenas renunciar, e seguir em frente, sem entrar em martírios. E é possivel que seja muito necessário ter especial cuidado com as pirotecnias, com as avassaladoras declarações do quanto somos bons, melhores e plenamente dignos de algo. Você tem mesmo certeza? Não é melhor deter-se numa observação séria e sincera de si mesmo, escolhendo não reivindicar as certezas do mundo sobre si? Calma, respire e leve a sério a sua vida, não tanto o papel que está representando nela. A leveza e o calor do 3 de Paus acompanharão a sua semana, seja feliz.