9 de Copas

Alegria! – grita a carta da semana. Inacreditável, foi meu primeiro pensamento. Depois de muitas e muitas semanas observando a constante retirada do baralho de cartas muito desafiadoras, e após pequenos alívios de cartas mais bem humoradas, o 9 de Copas é uma bênção tamanho master.

Este arcano fala de alegria, de satisfação, de contentamento. De estar contente, veja que bênção! E não de qualquer alegria, mas daquela muito esperada, que nos preenche, nos faz sorrir a todo momento sem razão exata para isso. O 9 de Copas fala de prazer quase perfeito – e eu penso, ao olhar para essas taças todas tão bem preenchidas, que essa perfeição está bastante ligada a conseguirmos olhar para a forma das coisas sem lhe dar a importância que lhe damos normalmente. Como se a forma ganhasse, aos nossos olhos, uma nova qualidade, e isso nos trouxesse alegria, porque se trata de libertação também. Todos os 9, no Tarot, anunciam mudanças que conduzem a um fim de ciclo. De certa forma, são graus que identificamos com crise, uma passagem, um túnel estreito – mas este túnel em Copas, de forma muito especial, é uma festa. O 9 de Copas ri-se dos sentimentos que nos aprisionam e nos diz: “Livre-se disso! Vá em frente! Para que ficar amarrado nessa cara sisuda, nesse problema sem fim, nesse mau humor interminável? Ali adiante há um mundo emocional liberto esperando por você!”

E assim devemos fazer: desprender de nós as cargas emocionais que nos limitam, e que são apenas formas às quais damos valor se e quando queremos. Por isso a forma pode, esta semana, ganhar novo sentido – porque precisamos de formas para que a vida se manifeste diante de nós, e não porque a vida seja a própria forma. Entende o giro? A forma deve estar a nosso serviço, e não nós a serviço dela. Daí nasce a mais funda alegria – ou a mais louca, como nos conta Guilherme Arantes, aquela que há de imperar, ainda que uns não queiram.

É preciso, esta semana, controlar o pensamento (e quando não, não é mesmo?). É preciso que a lâmina aguçada do nosso pensar se volte para o alto, para o infinito, para as distâncias cósmicas, e não para o mesquinho e rasteiro. Com o pensamento correto, deve a nossa palavra ser portadora de alegria, e não de mágoa e resssentimento. Imbuídos da força plena e perfeita do 9 de Copas, cessam as traições da nossa palavra, os enganos, as calúnias, as injúrias, as fofocas. É isso que podemos determinar esta semana, porque ainda por cima o 9 de Copas nos confere o poder de determinar muita coisa. E aqui reside o seu perigo. Repare.

Diante de cartas muito positivas, há cuidados a serem redobrados. Neste caso, o perigo é o do centrar-se excessivamente em si mesmo. É passar muito tempo diante dos espelhos da nossa vida, apreciando quem somos, quem não somos, o que fazemos e deixamos de fazer, o que dizemos e escolhemos calar. Os autoelogios precisam de freio. Podemos entrar em domínios difíceis de satisfazer, porque as nossas aspirações são muito elevadas e nos sentimos difíceis de contentar. Repare que tudo isso é interno, é bastante possível que não se perceba do lado de fora. Porém, isso poderá por a perder toda a verdadeira alegria que nos rodeie, tão atentos que estamos ao bem ou ao mal que nos sentimos.

Há muita, mas muita alegria ao seu redor. Muita perfeição. Basta olhar a perfeição do céu que a todos nos cobre, faça sol ou faça chuva. Basta prestar atenção à perfeição do espreguiçar de um gato, do canto do pássaro na sua janela, o galo saudando a manhã ao longe, as cigarras em seu ensurdecedor concerto ao fim da tarde, os ruídos da cidade que aos poucos se apagam ao anoitecer, a perfeição da roupa seca ao sol, a perfeição do vento em conversa com as copas das árvores, as estrelas pontilhando de luz a escuridão da noite. Basta observar o brincar de uma criança, a conversa animada de dois amigos, a troca de olhares de duas pessoas apaixonadas. Basta se conectar ao sorriso que lhe devolve a pessoa a quem você disse bom dia na rua, ao bem estar que você pode proporcionar ao outro a cada passo, a cada gesto.

Sim, as formas são indispensáveis à nossa vida terrena. Sem elas, não vemos. É da natureza do nosso planeta, e da nossa constituição, a existência da forma. Mas não é necessário que estejamos subjugados a ela, podemos ser seus criadores. Esta semana, com a sua alegria, nos inspira a criarmos as formas da nossa vida, através dos nossos gestos e do nosso abdicar daquilo que não nos faz bem. É simples assim, leve assim. A alegria desta semana nascerá de nos reconhecermos vivos e de reconhecermos a vida ao nosso redor, pulsante e entusiasmada. A essência divina tudo permeia, e assim é, e aqui estamos para reconhecer que a nossa existência é pura alegria, em estado latente e potente. Que assim seja, dia após dia, a cada semana nossa.