O naipe de Espadas, que temos visto em franca atividade nas últimas semanas, tem como uma de suas características lidar com conflitos e dores, quando não sofrimentos. Cada naipe tem, digamos assim, uma especialidade, e as Espadas, como armas cortantes e afiadas que são, têm as suas. O seu Príncipe, a nossa carta desta semana, traz à tona raiva e vingança. Uma atividade mental incessante, e bastante ágil e perceptiva também o acompanha, só que dificilmente se vincula à vida prática, o que faz com que facilmente se torne um ser obstinado, volúvel, alucinado – e, sobretudo, frustrado.
É este o cenário que temos para esta semana. Uma capacidade imensa de pensamentos e ideias abstratas e pouquíssima capacidade de colocar essas ideias em prática. A irritação que isso possa gerar (e pode) só conseguirá aumentar a si mesma. É preciso especialmente cuidado e atenção com pessoas e situações onde imperam a vaidade, o egoísmo e a incapacidade de tolerar o outro, ou de tolerar as decisões e as escolhas alheias. É claro que o primeiro lugar para onde devemos olhar é para nós mesmos, e instalarmos alguma forma de alerta vermelho para momentos em que nós criemos ou nos deixemos levar ou demos vazão a estes três cavaleiros do apocalipse: o excesso de autoapreciação e de glorificação de si mesmo; a dificuldade de perceber o outro e fazer aquilo que ele precisa; e a intolerância que podemos vir a sentir crescer dentro de nós diante de uma determinada situação ou diante de um determinado tipo de pessoa. Isto talvez seja o movimento mais importante que temos a fazer, internamente, durante os próximos dias, porque o ambiente interno que criemos instituirá ao nosso redor a qualidade das nossas experiências.
É possível que, durante a semana, aumente a quantidade de questionamentos sobre toda e qualquer coisa, inclusive sobre o que se pensa e o que se acha das situações as mais variadas. Estamos imersos em um cenário bastante tenso, em termos planetários, e há várias camadas de tensão pelo ar, políticas, ambientais e ideológicas, só para citar três. A dispersão tende a ser grande, a dificuldade de pensar com a própria cabeça pode aumentar, e, se por acaso dedicarmos atenção a pessoas eloquentes – e vazias -, mais perdidos e indecisos ficaremos. A desorientação, que está ligada a esse movimento mental rápido e sem foco do Príncipe de Espadas, pode nos deixar atordoados em meio a tantas argumentações.
Sobre os assuntos que você quer opinar, mas percebe muitas ideias e seus argumentos se embaralham em sua mente, talvez valha a pena informar-se melhor, ter mais e melhores fontes de dados, e confiáveis, o que automaticamente, hoje em dia, nos afasta dos algoritmos de instagram e afins. A tendência forte da semana é nos deixarmos levar pelas opiniões alheias, e como elas tendem a chegar com força e violência, parecendo vestidas de verdade absoluta, o perigo está evidente. Veja: a verdade absoluta não está disponível aos nossos olhos, mas a nossa mente a quer e deseja tanto quanto deseja ter razão. Cuidado com discursos acalorados, com falas inflamadas, com quem convoca à luta e à guerra facilmente, mas talvez nem saiba muito do que fala.
A semana inclina-se favoravelmente, apesar de tudo isso, a uma atividade que pode nos trazer inúmeros ganhos. O tempo de que dispomos pode ser bem empregue se o dedicarmos a revisar as nossas próprias opiniões. Isto é: vale a pena pensarmos a respeito das opiniões que temos a respeito daquilo que anda incomodando a sociedade, e que reverbera dentro de nós. Que opiniões temos e quais são as evidências que as sustentam. Às vezes, muitas até, carregamos conosco opiniões de décadas, às vezes por herança familiar, que nada têm a ver com os valores que de fato professamos. Para dar só um exemplo, como é possível alguém que preza e defende o direito a ser quem se é, abominar determinados tipos de relacionamentos amorosos?
Esta semana, que traz com o Príncipe de Espadas a possibilidade de acessar e acionar o pensamento abstrato, e com ele cortar o que está velho e caduco, pode nos ajudar a limpar as nossas intransigências, os nossos desrespeitos e os nossos enganos a respeito do mundo, do outro e, o que é muito significativo, de nós mesmos. Demanda coragem? Com certeza absoluta, da mesma forma que demandam coragem, muito provavelmente, os anos que vêm ao nosso encontro. A coragem reside dentro do coração, dizia o latim. Essa qualidade, especialmente esta semana, precisa conversar com a mente, e trazer-lhe calma e diminuir a sua pressa e o seu afobamento. É indispensável silenciar a mente para conseguir ter coragem; com ela em turbilhão, mil ideias, mil falas, mil textos, mil videos, mil opiniões… nos deixarão exaustos em poucos minutos. Afaste-se da mente, tenha coragem e não permita que a semana se dilua sem nada ter feito. Use as suas mãos, pare de pensar e pensar, e crie ao seu redor uma atmosfera revigorante para quem se aproximar. Isto será talvez o que de mais importante podemos fazer, convidar a nós mesmos e ao outro ao descanso, ao intervalo, à suspensão de pensamentos durante alguns momentos do dia. Com os pés bem firmados no nosso chão, na nossa realidade palpável, na nossa vida, com as mãos em atividade, com a mente em calma e o coração pleno de coragem.