O Príncipe de Paus é o nosso cicerone nesta semana. O entusiasta e cheio de energia Príncipe de Paus. Em seu carro de fogo, puxado por seu ígneo leão, costuma chegar com o entusiamado grito de “para fora da escuridão e para dentro da luz!”, fazendo-nos acreditar que tudo, mas tudo é mesmo, é possível, e é possível agora.
O que de fato é possível, e até provável, é que todos sintamos uma mudança de energia esta semana, conseguindo entender e resolver assuntos que estavam há tempos envoltos em sombras ou brumas. O Príncipe nos arrasta para fora da zona de turbulênca, e também de conforto na verdade, e nos preenche de um novo fogo, que nos permite, quase sempre, dar os passos que andávamos adiando ou escamoteando.
Este Arcano finaliza o penúltimo mês do ano, e embora essa seja uma convenção que decidimos adotar, é importante lembrar que muito se acumula nestas últimas semanas, inclusive tudo o que conseguimos ou quisemos ou tivemos que deixar para depois. Para muita coisa, o depois já chegou, e é agora. O Príncipe de Paus é uma boa notícia, nesse sentido, porque ele traz doses de energia que em teoria nós pensamos não ter no fim do ano. Mesmo as dúvidas a respeito de nós mesmos e das nossas capacidades, do quanto conseguimos lidar com nossos intrincados emaranhados internos, mesmo a isso o Príncipe de Paus confere um entusiasmo fora do comum – e muita coisa pode parecer fora do comum esta semana.
Por isso, porque há muitos fora-do-comum em campo, há alguns cuidados a serem tomados, para que não tomemos uma coisa pela outra, e nos confundamos ao longo da semana. Há um especial cuidado em não assumir, no entusiasmo do momento, o que é impossível de ser assumido, ou mesmo desejável. No arroubo da emoção, você pensa que conseguirá fazer ou dizer ou assumir algo, ou que sustentará as consequências de algo que lhe parece de repente grandioso. Parece-lhe mesmo que será possível. O Príncipe de Paus incendeia a sua vontade. Porém. Um grande porém. O mundo pode estar em desacordo, e as suas escolhas e ações prévias não permitam esse seu súbito desejo. “Ah não! Não me diga isso! Está tão claro agora para mim!”. Muita calma, e muito observar-se. A lei do retorno provavelmente aja com bastante prontidão, lhe trazendo de volta o plantio que você fez, e não haverá Princípe de Paus capaz de desmontar a rede que você mesmo armou nesse mar provavelmente revolto e pouco recomendável. Será preciso puxar a rede e ver o que se pescou, ainda que não seja aquilo que se quer recolher do mar. É a sua rede, é a sua pescaria, e é importante olhar para ela antes de se deixar levar pelo fogo fátuo que está ao seu redor, essa irrealidade combustiva de matéria em decomposição.
A proteção para este tipo de desvario reside num lugar peculiar chamado de seu interior, o lugar onde você guarda as suas mais profundas emoções e a sua intuição. É provável que seja sábio deixá-las guardadas, às emoções, e prestar atenção à sua intuição As primeiras, para que não atrapalhem o seu correto julgamento das situações que possa viver ao longo da semana. As segundas, as intuições, para que não se esqueça do que você já sabe, e que às vezes, em meio ao ruído que nós mesmos causamos, fica inaudível. Esforce-se por escutar essa sua voz interior, consulte-a, dê um passinho atrás para ver o que a sua história lhe diz.
É uma combinação estranha, eu sei. Uma voz nos diz “Viva intensamente, jogue-se nessas águas emocionantes” enquanto outra voz lhe diz “resguarde-se e proteja seus mais profundos sentimentos, vá com calma”. Essa dupla pede interiorização, pede observação de si mesmo, profunda percepção de até onde se pode ir – e, aí sim, ir. Lembre-se de que, além do seu entusiasmo e vontade de viver, e resolver, e sair da escuridão para abraçar a luz, existe o outro, existem os outros e seus processos, suas ambivalências, seus universos por descobrir, existe um mundo completamente alheio a esse seu fogo interno que tanto quer transbordar.
Assim como hoje se colhe o que se plantou ontem, amanhã se colherá o que se planta hoje. Portanto, cuide bem de onde você planta as suas palavras, os seus olhares, a sua forma de ser. Amanhã certamente você gostará de ver prosperar uma árvore acolhedora e frondosa. Dependerá não só da semente que você tem em sua mão, mas do solo em que a planta, das condições do dia em que o faz, e dos cuidados que lhe serão dispensados. Nem sempre a sua boa semente será bem cuidada, atente-se às reais capacidades que o outro tem de cuidar daquilo que você coloca em suas mãos.
Resumindo – viva, e viva bem. Resguarde-se de tudo aquilo que não lhe pertença ou não seja da sua lavra, e isto significa o outro. A melhor forma muitas vezes chama-se silêncio. Encante-se em silêncio, observe em silêncio, mantenha-se atento ao seu fluxo emocional, preserve as suas forças intuitivas, não se permita incendiar em lugares onde esteja guardada pólvora. Lembre-se de que quem brinca com fogo, poderá com fogo será queimado.