Cada coisa a seu tempo. Cada ser a seu centro. Consumação foi a terceira palavra que recebi como legado de seu Zé do Coco.
Sento-me à beira do lago aqui perto de casa. Tenho mantido distância de lagos nos últimos tempos, as suas profundezas lembram sangue, sem terem cor nem gosto de sangue. Apenas doem como se sangue que jorrasse de ferida não cicatrizada.
A meio deste lago diante do qual me sento, persigo com os olhos este buraco escuro guardado por quatro paus imóveis. A água escorre para dentro dele com a velocidade do tempo. O lago nem se altera, e a água já se foi. Escoa-se em persistente silêncio. Não há nada a fazer, a não ser deixar-se escoar.
Lembro-me de Isaura, uma das minhas pacientes personagens, à espera do meu tempo de abrir-lhe caminhos. Não tenho como agora, digo-lhe baixinho, preciso dedicar-me ao que está consumado. Como este novo livro, acabado de sair da gráfica. Este novo livro, que assim que sai se torna velho. Tão sutil é a idade dos livros.
Ainda sequer o tenho entre as mãos, a este novo livro que já vejo em imagem. Mas porque o sei nascido, seu Zé segreda-me outra vez, a meio desta madrugada, a terceira das três palavras. E eu acordo com um sorriso pairando entre as pálpebras, viro-me para o outro lado, e durmo em paz. A vida está completa. A vida está consumada.
Imagem: Sergio Oliveira