Convergência Jedi

É a solução. Nada de quebrar, de se dobrar até o chão da própria alma para (imaginar) seguir em frente. A solução é a convergência.
Recebi a tarefa de pensar a palavra. De pensar-lhe as letras. De pensar-lhe o uso. Nesse momento tão raro e único em que pensar e sentir precisam encontrar-se, em paz, é o que de melhor posso fazer: pensar as palavras para poder senti-las.
Decido investigar. Graças a são google, descubro não só a etimologia da palavra-pensamento-de-hoje, mas ainda outras coisas que me intrigam. Não necessariamente por elas mesmas, mas pelo fato de me virem parar às mãos. Descarto umas, porque parecem becos sem saída; insisto em outras, não porque lhes veja a saída, mas pela impressão de que a possuam. Pode ser tudo um engano. Mas…
Convergência, que à primeira vista poderia dizer de duas coisas que se dirigem para o mesmo lugar, até que se encontrem, deriva de convergens. É algo, sim, em conjunto – mas é a ação de inclinar-se junto. Numa associação de ideias a la Rubem Alves, penso nos bambus do sítio. O lugar comum do bambu-que-se-inclina-sem-quebrar. Talvez sejam precisos dois bambus, um inclinando-se sobre o outro, um convergindo para o outro. Ou talvez dois sejam um. Até porque dando dois passos etimológicos para trás chega-se a vergere: inclinar-se. Talvez o con não tenha tanta razão de existir assim, e talvez essa seja a raiz também da palavra vergar? Não. Pura especulação. Vergar deriva de virga, que tanto se aplica a broto, quanto a caule, quanto a galho. O esforço etimológico frequentemente conduz a mal entendidos e enganos.
Vergere responde por mais coisas. Depois de muitas, incompletas e cefaleicas leituras, venho a saber que Vergere foi uma cavaleira Jedi que instruiu Jance Solo (sobrinho de Luke Skywalker e filho da Princesa Leia) no uso da Força. Segundo seus ensinamentos, a Força não tem lados. O “lado negro da força” (aquele do Darth Vader, lembra?) não existe na Força em si, porque a Força é monista. O que existe é a noção de que as suas ações valem mais do que as suas intenções, de que é necessário escolher e agir, e de que é preciso ir ao encontro do universo com amor. “The dark side of the Force” é responsabilidade do cavaleiro Jedi e de quem mais dela se aproximar. Não consegui entender, nesse “universo expandido” em que os anos se contam como ABY e DBY (ou seja, antes e depois da batalha de Yavin), se os ensinamentos chegaram a bom termo ou não, porque afinal de contas o tal do Jance acabou por transformar-se em Darth Caedus, depois de muitas idas e vindas entre os lados de todos os tons de cinza da Força.
O importante, dentro deste (para mim) caos altamente organizado em que qualquer jogador de RPG deve circular com desenvoltura e habilidade, é que Vergere decreta a não existência de lados da Força. Deve ser por isso que um bambu baste, cada um de seus gomos inclinando-se suavemente para permitir que a estrutura não colapse. Convergência, a palavra legado que me cumpre investigar, fala-me agora da necessidade de inclinar-se com a suavidade do bambu e a determinação de um cavaleiro Jedi. Com a atenção e a consciência de que a Força aí está, a serviço daquilo que se determine dentro desta vida nossa de universo tantas vezes encolhido. A serviço daquilo que se perceba como matéria ou como seu reflexo no chão duro da vida – escolher e agir, dentro do propósito maior que, seja aqui, seja na República Galáctica, responde pela mesma palavra: amor.
A foto é da Thyana Hacla, e parte do “meu conhecimento Jedi” devo-o 
ao Robert Coelho e ao Antonio Laverde, em animada conversa facebookiana.


Respostas de 2

  1. Adorei este encontro da grande literatura com aventuras de folhetim, o artista reconhecendo valor em mitologias de heróis e jogos RPG. Minha alma nerd se sentiu incluída! Só a Ana Vieira para ensinar que esta ponte, além de possível, pode ser um caminho criativo bem rico!

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