Às vezes é preciso muito pouco para que um encontro verdadeiro aconteça e, mesmo sabendo disso, decidimos andar em sentido contrário, fazendo com que aquilo que vinha encantadoramente em nossa direção desapareça, porque lhe viramos as costas. Até percebemos sem dificuldade onde seria necessário pisar, o que dizer, por onde ir, mas as situações adquirem vida própria e as coisas encontram caminhos que nos levam muito mais para longe do que para perto. Em raros momentos, porém, a vida parece entrar no foco de um prisma justamente no momento em que a luz do sol incide sobre ele, e aí as coisas mudam de brilho, enchem-se de novidades e bailam diante dos olhos. É ótimo quando isso acontece.
Numa destas últimas semanas encontrei uma pessoa com um mapa astral tão próximo do meu que, como diria minha avó Gloria, “até me fez impressão”. Claro que por causa disso passei a prestar-lhe o triplo da atenção, desconfio que o mesmo aconteceu do lado de lá, basicamente porque, claro, um ficou tão surpreso quanto o outro pela quantidade de coincidências zodiacais, que só vieram à tona porque o assunto era esse, as estrelas. A partir daí, e pena que o tempo foi curto, faltou pouco para que nos sentássemos a conferir oposições, trânsitos e quadraturas, e foi uma pena também que ambos não estivéssemos com os mapas na mão para maior fidedignidade.
Dirigindo de volta para casa, fiquei matutando na quantidade de seres que devem andar por aí à procura uns dos outros, confundidos e aturdidos pelas aparências estúpidas que herdamos ou fabricamos, e que nos cerceiam a liberdade do ir e vir de uns aos outros. Que mais não fosse por isso, todas as artes do espelhar a própria alma, da astrologia ao tarot, já valeriam a pena, por permitir-nos olhar para nós mesmos e para os outros com a facilitação de um elemento externo, que de certa forma nos protege do olhar invasivo do mundo – afinal, o olhar vai na direção do objeto, e não do sujeito que muitas vezes resulta que somos nós mesmos. Pode até ser que se chegue nele, sujeito, mas é por percursos transversos, enveredando por aqueles desvios que nos penetram apenas quando no fundo sutilmente os convidamos.
O volante é normalmente um bom conselheiro e um perfeito inspirador, facilitador do processo de recuperação da memória e do tecer do contato entre experiências distintas. Cheguei ao destino, depois desse roteiro, contente pela volta, e com uma quantidade razoável de novos elementos na bagagem, daquele tipo que se insinua interligado. Cheguei tarde e fui-me deitar, conscientemente bem feliz pela possibilidade de ter visto realizar-se mais uma vez um encontro mal divisado, surpreendente precisamente por isso – porque ninguém estava à sua espera e ninguém lhe barrou passagem. Se desse momento surgirão outros ou não, pouco importa, até porque os milagres não se perpetuam no tempo, mas na memória.
Uma resposta
Sou a Antonia Brito, gostei muito do seu artigo tem muito
conteúdo de valor, parabéns nota 10.
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