Futebol não é coisa que me entusiasme. Gosto das finais, mas mais da festa das arquibancadas, seu colorido exagerado, do que dos movimentos do campo em si. Divirto-me observando torcedores empolgados, mas nada que além disso realmente me tome por dentro. O que me toma por dentro é essa reunião de pessoas que se reconhecem em coisas simples.
De tudo o que acontece, porém, gosto dos escanteios. Porque se parecem com a vida, naqueles momentos em que é preciso reiniciar uma partida, depois que a bola saiu completamente de campo pela linha do fundo – sem ter, obviamente, marcado gol. Respirar, perceber quem tocou na bola pela última vez e decidir quem, da equipe contrária, baterá o escanteio. São bons momentos para marcar um gol, que uns defendem e outros tentam conseguir. Não sei de estatísticas, mas parece-me que na maioria das vezes (feliz ou) infelizmente não há gol e a partida continua.
Às vezes, na vida, a partida parece parar indefinidamente. Ninguém se mexe, como se campo e arquibancada decidissem suspender a ação e esperar que os deuses descessem do Olimpo para decidir a vida. Eles não vêm, há séculos. Entregaram-nos a batuta e não se imiscuem mais. Cabe-nos decidir pra onde a bola, pelo pé de quem, e se sairá de uma intersecção de linhas que parece uma encruzilhada, ou da tranquilizadora reta sem desafios.
Curioso que, se a bola sai por uma das laterais, deva ser relançada ao jogo do lugar por onde saiu. Uma saída rápida, um retorno rápido também, sem maiores consequências – essa a tranquilidade da reta. Mas quando sai pela linha de fundo, quando alguém tentou (eu sei, nem sempre, mas muitas vezes) marcar um gol, arriscar-se à vitória, ao sublime, precisa obrigatoriamente voltar ao jogo pelo canto. Deve ser mais fácil, à equipe adversária, tentar um gol nessa posição de lançamento, e por isso qualquer saída pela linha de fundo representa um risco – e se não se acerta o gol, e quem o faz é o adversário, na cobrança do escanteio? Está-se mais perto da baliza, como diriam meus conterrâneos, numa inclinação que a um leigo parece bem interessante.
Como na vida, penso de novo. Dependendo de por qual linha a bola saiu, dependendo do ímpeto, do nível de risco, da avaliação das chances, o retorno acontecerá. O gol que tentou ser marcado pode ser como os burros n’água, pode ser que de repente tudo se volte contra, dentes arreganhados num sorriso quem sabe se de escárnio, ameaça pairando no ar. Nessas horas, não há solução, não adianta olhar em volta à procura de ajuda: parte-se para a defesa, cotovelos com cotovelos, esperando que o salto no ar, cabeça em direção à bola, seja o suficiente para desviá-la do caminho da rede. Quando não é inevitável, costuma dar certo.
Curioso que, se a bola sai por uma das laterais, deva ser relançada ao jogo do lugar por onde saiu. Uma saída rápida, um retorno rápido também, sem maiores consequências – essa a tranquilidade da reta. Mas quando sai pela linha de fundo, quando alguém tentou (eu sei, nem sempre, mas muitas vezes) marcar um gol, arriscar-se à vitória, ao sublime, precisa obrigatoriamente voltar ao jogo pelo canto. Deve ser mais fácil, à equipe adversária, tentar um gol nessa posição de lançamento, e por isso qualquer saída pela linha de fundo representa um risco – e se não se acerta o gol, e quem o faz é o adversário, na cobrança do escanteio? Está-se mais perto da baliza, como diriam meus conterrâneos, numa inclinação que a um leigo parece bem interessante.
Como na vida, penso de novo. Dependendo de por qual linha a bola saiu, dependendo do ímpeto, do nível de risco, da avaliação das chances, o retorno acontecerá. O gol que tentou ser marcado pode ser como os burros n’água, pode ser que de repente tudo se volte contra, dentes arreganhados num sorriso quem sabe se de escárnio, ameaça pairando no ar. Nessas horas, não há solução, não adianta olhar em volta à procura de ajuda: parte-se para a defesa, cotovelos com cotovelos, esperando que o salto no ar, cabeça em direção à bola, seja o suficiente para desviá-la do caminho da rede. Quando não é inevitável, costuma dar certo.