O senhor Pena Vermelha nos ofereceu por estes dias mais uma palavra, para engrossar a lista das que me cabe estudar. Desta vez, a palavra é obediência, e o pedido vem insistente, com olhar firme e sílabas cuidadosamente fincadas dentro dos meus ouvidos. Seguem-se os dias às noites e a palavra matraqueia-me por dentro. Escolho o dia de hoje, em que meu pai faria anos.
Pois então, obediência. Lá nos profundos de sua etimologia vive o verbo latino audire. Ouvir. Para ouvir, sabemos, é necessário silêncio, e este significa “ficar quieto” – que por sua vez deriva de quies, que se traduz por calma (“o calor do meio-dia”, cauma em latim) e serenidade (a qualidade do que é tranquilo e claro, provavelmente aplicado aos lagos e aos rios quando sulcam a terra de forma lenta e serpenteante). A audire vem juntar-se uma pequena e significativa partícula: ob. Atenção. Temos, ao final do percurso da palavra, oboedire, que vem a ser ouvir com seriedade e atenção.
E a isto obediência se refere: ouvir com seriedade e atenção, o que só pode ser feito de forma tranquila, calma, quieta e em silêncio. É preciso que aquilo que se ouve encontre espaços onde possa reverberar, isento de distrações.
Obediência leva-nos ao estado de escuta, e ao estado de atenção ao que se escuta. Como exercício, fortalece-nos. Como caminho, enriquece-nos. Como projeto, aumenta a nossa capacidade de discernimento. Porque se ouvirmos bem e em nossos corpos ressoar o ouvido, será por esse motivo que a obediência se concretizará em ações – e não por outro motivo, normalmente nascido da inconsciência, ou da ignorância, ou da incapacidade de perceber o mundo em volta e a ele responder com autonomia.
Se, ao ouvirmos, mantemos o nosso próprio ruído (nossas certezas, crenças, opiniões, gostos, preferências) e não diminuímos os ruídos do mundo ao redor (tanto os tangíveis, como os gritos do vizinho, quanto os intangíveis, que são as suas opiniões a respeito da vida do outro), não conseguiremos ouvir com atenção as vozes que sopram – e seremos reféns desses mesmos ruídos que se interpõem entre nós e aquilo ou aquele que fala.
Obedecer não é cego – e muito menos surdo. O que a obediência nos pede é profunda atitude interna, e que possamos estar libertos dos nossos condicionamentos, esses sim a tornarem-nos cegos e surdos àquilo que o tempo presente, nas condições presentes, no tempo e espaço do agora, nos oferece e estimula. Ser obediente é escutar, e a escuta depende dessa disposição interna, e do seu treinamento por vontade própria – que assim a tenhamos e possamos escutar serenos a conversa das estrelas e os cânticos dos anjos.
Respostas de 6
muito interessante!!! gratidão!
Obedecer, observar leis, segui-las, cumpri-las, a obediência surge da união com as leis universais. Surge do reconhecimento da unidade que existe em toda a vida, quando descobrimos que há uma original Vontade Única, uma Vontade Maior. Mas precisamos ter em nós, já trabalhada, (conforme orientação do Sr. Pena Vermelha), a decisão de seguir essa Vontade.
(Trigeirinho)▪○
ABraço Sabará
Uau! Providencial para o momento presente. Obrigada, axé!
Muito bom, Ana! Sim, aprender a silenciar para ouvir! 😉🙏🏼🌹
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Muito interessante, parabéns e muito obrigado pelo conteúdo.