Assim como nós, livros também nascem. São sonhados, curtidos, imaginados. Crescem resguardados dentro de um útero de palavras, como seres que se anunciam a si mesmos. E, um dia, saem de dentro. Ganham as prateleiras das livrarias, as mãos das pessoas, os olhos dos leitores. Este livro, que de forma muito especial nos fala de nascimentos, nasce com a boa estrela das almas generosas.
O gesto de cada mulher e de cada homem que aqui em “Filhos da Primavera” registram momentos tão íntimos e transformadores de suas vidas é uma oferta desprendida e amorosa, a todos nós que os lemos. É possível que eles mesmos não tenham ainda a percepção do quanto é importante esse seu gesto. De quanto a humanidade se nutre de coisas assim, que apenas desejam dizer ao outro que novas formas de nascer, de viver, de pensar são possíveis – e eles dizem: “Veja, se comigo foi possível, e hoje eu sou tão feliz por isso, porque não seria assim com você?”.
Meu filho mais velho, dos sete que tenho a honra de ter trazido à luz na minha própria casa, tem hoje 29 anos. Há quase três décadas, nascer de forma diferente, buscando maneiras que nos libertassem de um sistema em nada humanizador, não era moda entre nós. Não era assunto. Não era matéria de revista, ou jornal. Não se falava de técnicas de massagem, não havia videos, nem doulas, nem bolas, nem panos, nem banheiras facilmente adaptáveis a qualquer lugar. Justamente por isso, talvez no fundo fosse mais simples. Havia a casa, havia a confiança, havia a penumbra e o silêncio, e havia a certeza de receber um ser espiritual na terra de uma forma respeitosa e honesta.
Não ter muitas possibilidades de troca, não ter relatos como estes que aqui se oferecem, não ter exemplos ao lado para referenciar as escolhas, fez com que precisássemos encontrar alicerces internos para seguir adiante e dar à luz não só filhos, mas também ideias, posicionamentos, escolhas viscerais.
É essa visceralidade que assoma aqui e ali nas páginas que você está prestes a ler. A visceralidade transformada em vontade férrea e determinada, em encarar a própria verdade de frente. É lindo de ver o quanto um ser humano pode superar-se, adentrar-se, florir-se para dentro para renovar-se pra fora.
É preciso que construamos em nós a certeza inabalável de que somos responsáveis por nós mesmos. Que as nossas escolhas têm força no momento em que as assumimos e colocamos em marcha, e que a mantêm quando não esmorecemos e nos conectamos com a sua fonte geradora, que vive em nós, e não fora. Que para além de nascerem nossos filhos, nascemos nós outras, renascidas a cada parto. Cada vez mais generosas, mais afetuosas e mais compreensivas.
Ficha técnica
Filhos da primavera
Organizado por Camila Capacle Paiva, Celso Monari e Luiza Paim
Ilustrado por Itaiana Battoni
Contato https://www.facebook.com/filhosdaprimavera?ref=br_rs