Meu amigo,
Quando de repente, a meio desta noite e por entre todas as palavras que disseste, pronunciaste a mais bela de todas – servir -, encantou-se em mim uma flor não desabrochada. Olho-a agora, antes das demais tarefas que ainda me ocuparão as horas, e não posso acudi-las, como não poderei deitar-me e repousar o sono, sem antes escrever-te e dizer-te: tens razão quando dizes que servir é o que verdadeiramente importa.
E digo-te que essa palavra que usas, com uma propriedade que te vem desse tormento aflito em que te vês imerso (e do qual nem foges, nem te esquivas, nem negas, nem condenas), é de fato um verbo, mas conjuga-se de forma diversa e incomum, e principalmente (repara: principalmente) admite tão somente o presente do indicativo. Eu souvir, tu ésvir, ele évir, nós somosvir e eles, todos eles, sãovir. Bastou, por hoje, ser e vir.
Por isso te envio, em forma de palavras voadoras, as pétalas que uma a uma fui desabrochando ao longo do caminho de volta, dessa flor que deixaste junto à porta do universo de palavras que escolho todos os dias ocupar no mundo. Quero com ardência poder estar a teu serviço tanto quanto ou mais te dispões a estar, a qualquer hora e forma necessária, ao meu.
Despeço-me dessa impressão tão forte que inculcaste na minha alma, e volto-me para os outros trabalhos, esses que me redimem e dão sentido, acalentam e sossegam e que respondem, todos e cada um, pela palavra escrever.
Que a noite te seja leve.
Respostas de 2
Que lindo, Ana…
SER e VIR…
VIR À SER…
SERVIR,
SEM SERVIDÃO.
IR,IR,IR…
SEM SERVIÇO
SER COM SER
COM VIÇO
As palavras catapultam-se entre nós.