2011 resistente ou resiliente?

Esta crônica estava engavetada há meses. Quis escrever algo sobre essas duas atitudes que dão título a estas linhas, sem perceber que na verdade a sua vocação era fazerem-se texto conforme se aproximasse 2011. Agora que já cheguei ao final do que queria escrever, e apenas volto aqui em cima para introduzir o tema de forma menos enervante que o parágrafo que se segue, sei perfeitamente qual era mesmo a minha questão com essas palavrinhas.
“Resiliência” virou moda – muitos usam e nem todos conseguem exatamente explicar do que se trata. “Capacidade de adaptação”, disseram-me outro dia. Quase lá, a julgar pelo Aurélio roído de traças daqui de casa: com alguma relação escondida, resiliência tanto é a “resistência ao choque” quanto “a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de uma deformação elástica”. Do campo da física, e do inglês por assimilação saxônica, a palavra migrou para a psicologia, e de lá para o campo da educação – é só procurar no google que logo aparecem muitos e muitos links que remetem ao conceito.
Para tornar-se conceito, de fato, é preciso que muitos usem uma determinada palavra, sobretudo quando esta se desloca de um campo do conhecimento a outro, passando a ser necessário estabelecer algum parâmetro mínimo comum, criando um repertório que nos permita a troca de ideias. Mecanismo básico da comunicação eficiente. Ainda assim, não resolve a situação, até porque nem o Aurélio, conceituador mor por definição, dá conta de explicar o que vem a ser a resiliência fora do espectro da física. De qualquer forma, ser resiliente tornou-se uma qualidade, senão uma competência, que os educadores devem desenvolver – parece garantia de sobrevivência, mesmo que não se saiba exatamente do que se trata.
Eu achava (antes de escrever esta crônica e ler um pouco sobre o assunto, na ordem inversa já se vê) que tinha um tanto de qualidades resilientes. Imaginava que, quando permitida minha forma original, devolvia de boa vontade toda a energia represada. Como se um movimento de equilíbrio de forças yang e yin, adequado aliás a nosso século de instabilidades climáticas e emocionais. Só não chegava a ver com grande clareza a quem devolver essa energia contida, e que muitas vezes nada tem de agradável: ao agente da minha deformação? A quem assistia a tal deformação e nada dizia? Ou a quem nem deformava, nem assistia, mas permitia? Talvez quem sabe aos recantos que ficaram em mim quase mortos por inanição, enquanto partes de mim deformadas se ocupavam por vontade e imposição alheia em reter a energia que lhes pertencia? Discussão interna desnecessária, como se verá.
O tal “resistir ao choque” adapta-se aqui de forma no mínimo canhestra: resiliência seria então a propriedade de devolver a energia que estava travada, seja lá a quem de direito, mas também “resistir ao choque”? Estando comprimido, resistir ao choque? Apesar de contido, apertado, deformado: resistir ao choque? Resistir. Seria mais fácil, se fácil assim fosse, falar de “resistência” e desistir dos empréstimos ao campo da física.
Resistência está ligada à ideia de oposição, de suportar algo que não agrada. Resiliência pressupõe o desenvolvimento de sete capacidades, e já se vê que só por isso é conceito mais elaborado e abrangente. Longe de incorporar a ideia de oposição, o ser resiliente é aquele que 1) administra suas emoções (ou seja, mantém-se sereno em situações de estresse); 2) controla seus impulsos (ou, em outras palavras, auto-regula as suas emoções); 3) é otimista (acredita que tudo pode mudar para melhor); 4) analisa o ambiente e assim evita colocar-se em situações de risco; 5) é empático, ajustando as suas atitudes a partir daquilo que percebe das emoções alheias; 6) é auto-eficiente (acredita ser capaz de resolver os próprios problemas com aquilo que tem ao seu dispor); e 7) sabe relacionar-se e criar vínculos com outras pessoas, sem receio e sem medo de fracassar. Não tive problemas em reconhecer a quantidade de lacunas nas minhas capacidades resilientes…
Isto de escarafunchar o meio das palavras é uma verdadeira lição de vida, tinha razão Isidoro de Sevilha (hei de contar-vos sobre ele um destes dias). Olhar para dentro delas, para o fora que se tornou história, para os caminhos que tomaram enquanto aprendiam a andar e começavam a falar, para a sua ressonância em meus ouvidos e em minha alma. Escrevo-as de várias formas, encontro-lhes significados ocultos, cabalas imensas a bailarem diante de mim ainda que nada delas entenda – encantam-me. Só por brincar com elas, as palavras, sei o que desejo a todos neste 2011:  a intenção firme de resistir (portanto não ceder, portanto defender-se, portanto fazer frente) aos choques que venham na direção de cada um. E assim que passarem (e passarão assim que o novo ano avançar, sou otimista afinal porque sou pelo menos um pouco resiliente), que todos devolvam a si próprios a energia que outros desperdiçaram, enquanto se dedicavam a oprimir, comprimir, apertar, deformar o que foi feito para viver livre, solto e em paz.

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