7 de Copas

Uma das maiores alegrias do 7 de Copas é quando ele consegue nos inspirar a elevar a matéria à substância espírito. Quando é permitido, por entre as águas pantanosas dos enganos e das mentiras, transmutar o que é transmutável, dando passos adiante na evolução do mundo (não apenas de si próprio), este Arcano se alegra. Há, nesta carta, um chamado à ação coletiva, mas de um tipo específico: o tipo que entende que uma ação invididual repercute imediatamente no coletivo. Ou seja: o 7 de Copas sabe que não estamos sozinhos, e que nossas ações não atingem apenas a nós.

Por isso, e pelos motivos que veremos adiante, esta semana pede (ou melhor, exige) vigilância absoluta. O 7 de Copas é a mais clara advertência de que um mundo de tentações tende a rodear os próximos dias. E o que nos tenta, na maioria das vezes, é justamente aquilo que temos dificuldade em digerir, em escutar, em acomodar dentro de nós – e nos faz explodir. A semana tende a ser penetrada, em todas as instâncias, por essas situações, e elas tendem a riscar o fósforo interno e a nos fazer reagir sem consciência. Ora bem: nós não podemos agir de forma inconsciente, porque o risco do 7 de Copas é exatamente esse: de forma inconsciente colocarmos em risco o coletivo. A tentação do status, a tentação da riqueza material, a devassidão que pode se instalar na semana são alertas claros, e é sobre eles, e sobre nossa reação a eles, que devemos voltar a nossa atenção.

A primeira forma de mantermos a vigilância é perguntar a nós mesmos se as nossas ações e pensamentos correspondem às ações e pensamentos que gostaríamos de ver recair sobre nós. Não importa, esta semana, manter vigilância sobre o outro, mas sobre nós. Porque já sabemos que apenas sobre nós podemos ter alguma forma de influência ou controle.

É preciso também fugir, e a passos largos, da tentação de ver a realidade diferente do que ela é. É preciso manter a consciência do que as coisas são, e em que estado estão, e entendermos que o que nós gostaríamos que fosse não é necessariamente o que é. Esse olhar, que precisa da nossa vigilância para não ser tingido pela mentira, evitará que nos percamos em ilusões que levam aos riscos daquelas tentações. Se é preciso você mudar, mude. Ceda, e com vontade, à tentação da onipotência, à tentação de estar certo, da sua visão de mundo ser a melhor e a única verdadeira. Se o mundo, de repente, se apresentou diferente, não feche os olhos. Olhe, e mude.

E talvez seja necessário deixar ir alguma coisa. Abdicar. Respirar e silenciar. Não para ser conivente com coisa alguma, o que seria ser cúmplice e ignorar o que está à vista de todos, mas sim para saber seu próprio lugar, e agir consoante. Especialmente se essa “alguma coisa” está ligada a algo que a sua moralidade (ou seja, as intenções, decisões e ações que você valoriza em sua vida) condena, desgosta ou recusa. Deixe ir.

Resignar-se não entra na lista de palavras que devam ser usadas esta semana – e você dirá “mas que contradição! Não devo agir mas não devo me resignar?”. Foi boa a pergunta, e eu repito: é preciso agir, sim, mas não é qualquer ação; é preciso lembrar, dia após dia, que as tentações, os riscos, as fagulhas que provocam incêndios e as faíscas que geram explosões estão por perto, ao alcance de uma palavra ou de um dedo. Vigilância absoluta é indispensável, e assim também obedecer ao chamado do destino que vibra e canta dentro de você: é preciso acreditar na vida e na humanidade. Não é esperança, veja bem – é firmemente acreditar, e manter sua consciência nisso, de que a humanidade e a vida são o que vale a pena, em última instância, e o que sobreviverá a todos nós.

O número 7, esotericamente, fecha um ciclo. Por isso, dá-se o nome de “vitória” a todos os arcanos que o carregam, porque o que era possível fazer foi feito, e o iniciado completou a sua jornada. Em Copas, essa jornada tem um tanto de sacrifício e outro tanto de paciência, e ambos se dirigem à capacidade de ler o coração do outro e de nele acender o fogo purificador, à capacidade de Amar antes, durante e depois e sempre, e à capacidade de, a partir da palavra encarnada, da palavra lançada, operar os milagres de que o mundo precisa – a palavra abençoada cura, lava, purifica, ampara, reintegra e realiza o milagre. Não se permita nada menos do que isso.