Transcender pode ser uma boa palavra para nos acompanhar esta semana. Transcender especialmente as mais escondidas mágoas e ressentimentos que possamos guardar em nós. Podemos não ter sido desejados, ainda no ventre materno – e podemos seguir vida afora, sem sequer saber disso, mas sentindo reflexos deste não-desejo em nossas relações com o mundo. Transcender esse estado inicial é a chave para vivermos esta semana e dela colhermos todas as suas libertações. Podemos ter tido experiências perturbadoras na infância, e essas experiências podem marcar com amargura e desconfiança o nosso caminho ao longo da vida. Se as últimas semanas foram revestidas de dureza, de sacrifício, de defrontar-se com a sua sombra sem conseguir dela escapar – você está preparado para este Arcano. Quem não consegue reconhecer a crise, o desafio, as suas regiões mais ensombrecidas; quem não sabe onde vive a sua raiva, a sua revolta, os seus instintos primitivos, a sua inveja, o seu ódio, os seus ressentimentos, a sua maldade – não tem como lidar com estas trombetas que o Julgamento Final ecoa. O arcano XX traz um chamado à consciência, tanto quanto a emergência do que está oculto. E justamente tudo isso que está oculto tem a chance de ser liberado e trabalhado esta semana. É isto que este Aeon precipita.
Pode ser uma boa semana para se reorganizar profissionalmente, para buscar novos métodos, novas formas; se a mesmice tem atacado a sua vida, este é um momento de rompimento com ela. Apenas não se deixe levar por otimismos exagerados, achando que no começo já se encontra o fim. Não é bem assim, e as dificuldades logo surgirão, porque é da vida humana haver obstáculos para que aprendamos a resolvê-los.
É possível que o passado se faça presente nesta semana, objetiva ou subjetivamente – porém, viver no passado e passar a semana se arrependendo do que fez ou não fez, disse ou não disse, provocou ou não provocou, é um tremendo desperdício. Trabalhe em si a sensação de “estar dividido em dois”, como a mulher de Lot, incapaz de seguir em frente sem olhar para trás, e perdendo assim toda a sua vitalidade. Sentimentos que vivem o tempo inteiro de e no passado tendem realmente a consumir nossas forças vitais. Há apenas uma coisa no passado,: a possibilidade de percebê-lo como uma experiência fundamental para o presente, e que é essencial ser liberada das amarras dos arrependimentos e das mágoas para que possa ser útil ao hoje e, consequentemente, ao amanhã. O que fracassou no passado, os passos equivocados, as pessoas que partiram, o que não volta mais – entenda: não volta mais, mas deixou um legado que cumpre considerar e honrar.
O Julgamento Final nos coloca diante do novo, assim como diante de decisões finais não só apoteóticas, mas também. Cuidar dos próprios pensamentos e sentimentos (perceber como estes, que podem tão bem descontrolar-se, podem afetar os primeiros), não ser reativo, especialmente quando algo do passado reapareça, interna ou externamente, é imprescindível. Muitas coisas podem se resolver, e serão tão melhor resolvidas quanto nós consigamos nos libertar de tudo aquilo que não está, aqui e agora, em consonância com as nossas vidas, daqueles que nos rodeiam e com a vida em nosso planeta.
