Rainha de Espadas

É bastante provável que esta semana se mantenha a sensação de que é necessário preservar os ganhos já alcançados, as posições já tomadas – e talvez seja muito benéfico lembrar-se disso ao longo dos dias, para não se perder de vista o avanço já feito. Não percebe sinais de ousadia por perto (ou por dentro), ou de grandes aventuras, jogos arriscados, adrenalina a mil? É a semana dando-lhe as boas vindas.

Ainda que esse seja possa ser um pano de fundo, repare – há tempo para reparar, diz a semana. Não só em você, mas em todos ao seu redor – todos usam algum tipo de máscara (ou máscaras) para se moverem em sociedade, para se relacionarem uns com os outros, para cumprirem as suas tarefas e obrigações diárias. As faces que cada um de nós usamos, nas diversas atribuições que nos cabem no dia a dia, não representam o que ou quem somos. A máscara que você usa para trabalhar, a face que emerge de dentro de você para cuidar de seus filhos ou de sua casa, para sair à noite, para conversar com um amigo, para estar sozinho e respirar profundamente ao tomar um banho quente – cada uma delas é você e ao mesmo nenhuma delas é você.

A Rainha de Espadas observa a todas, do alto da sua majestade, e, esforçando-se para não entrar em seu campo de amargura e rispidez, aprende a discernir por entre tanta informação (por vezes desconexa) quem é e como é o mundo ao redor. O mundo (isto é, os outros) funciona exatamente como você – usa máscaras o tempo todo, às vezes até para ser eficiente – quem nunca foi instruído a deixar a sua “mochila” do lado de fora, antes de entrar na sala de trabalho, o conhecido “não traga seus problemas pessoais para o seu trabalho”? O que mais é isso além de “vista a sua máscara correta para estar aqui”? Outras vezes, a máscara servirá para garantir ser amado, outras para não ser descoberto, outras para estar focado, para se salvar, para se sentir confortável, para não ser perseguido, para ser justo. Nada disso é você, nada disso é o outro. E a Rainha de Espadas é quem melhor sabe disso.

As máscaras não são conscientes, na maioria das vezes, e é isso que esta Rainha faz em nossa semana: ela quer e vai em busca de consciência. Ela quer limpeza, soberania, independência. E o que a Rainha de Espadas pode fazer em nossa semana, se nós nos aliarmos a ela, é abrir as portas da compreensão dessas máscaras, ajudando-nos a ver claro por detrás das que nós usamos – e das que os outros usam. Isso deixa, naturalmente, a pressa e a precipitação de fora. Pede que se aumente o grau de observação e atenção às ações, aos resultados das ações e à forma como as ações se apresentam e desenvolvem. Pede que, com bastante cuidado mas também desenvoltura, se esteja à vontade para ser verdadeiro, e ao mesmo tempo inteligente. Nos inspira a buscar os caminhos mais retos, mas também não tão duros, para chegar ao cerne das questões. A Rainha de Espadas adora o cerne das questões. Sinto-a movimentar-se dentro de mim só de pensar nessa palavra: cerne. O interior, o âmago, o núcleo, o caroço. Pense no sinônimo que quiser. A espada desta Rainha aponta nessa direção, e é nessa direção que a semana caminha.

Vale muito a pena, com tudo isso, lidar com algumas coisas, nestes dias. Com as suas dependências, por exemplo. Olhar para elas frente a frente, recusando o medo de olhar, de investigar, de chegar até o… âmago. Vale a pena olhar para os seus relacionamentos, de frente e com coragem, e identificar quais, ou quais partes, sufocam, e fazem, em vez de máscaras leves, serem usadas armaduras. Vale a pena olhar-se no espelho com bondade, e perceber que é possível aliviar as feições endurecidas, relaxar os músculos, identificar o brilho dos olhos onde ele estiver. Sem isso, será difícil olhar para os outros também com bondade, sem dureza, e com brilho. Pode ser necessário fazer isso muitas vezes, porque as máscaras agarram-se, e nós normalmente queremos ser melhor do que somos, o que é ótimo, veja bem, é um bom começo. Porém, o que a semana nos oferece é nos percebermos quem somos, e não apenas o nosso melhor. Baixe suas armas e tire as suas máscaras, diz esta Rainha de poucas mas precisas palavras. Venha de peito aberto, esqueça-se do orgulho que acha que protege, dos jogos de palavras que anunciam esconderijos, e liberte-se. Será bom para você, e será bom para todos. Ceda à vontade da palavra amarga, a que dói, a que magoa – esta Rainha também sabe bem onde mais dói o que pode ser dito, e aí é preciso domesticá-la (o que será difícil, aviso), para que sua frieza, sua calculada rigidez e o seu cinismo não abram feridas difíceis de curar.

Esta semana, fuja da desorientação, treine o foco das coisas, lembre-se que é um passo de cada vez. Seguimos no modo proteção do que foi alcançado, estabilizando a cada pisada para consolidar o caminho, com dedicação e sabendo que, por enquanto, continua sendo devagar mesmo que se vai ao longe.