Dicotomia e incongruência

Gosto quando me perguntam sobre palavras. Às vezes, a resposta vem, lépida e faceira, simples, convincente. Outras, as palavras perguntadas ficam perambulando dentro de mim, abrindo espaços, forçando-me em direções que preciso, ainda que não queira. Reviro-as e reviro-me de todos os lados. Essas palavras perguntadas são coisas sérias, coisas que chegam sem motivo para nos darem motivo.

Ontem perguntaram-me o que é dicotomia. Tentei a explicação etimológica: tomia significa cortar, portanto dicotomia é cortar em dois, algo que era um subdivide-se etc. Mas não: o que a pessoa quer saber é o que é uma falsa dicotomia. Como saber quando algo se insinua dividido, mas não há divisão? As coisas, quando se dividem em duas diante da janela mais danosa, a da incongruência. E essa é a segunda palavra que me perguntam – incongruência – e assim são duas a que preciso dedicar-me. Não consigo respostas, eu própria a dicotomia em estado bruto.
A prateleira dos livros logo ali. Lanço mão dos poetas. Lembro-me de dois, assim já, de repente, como chegam as coisas que precisamos ler. Luiza Neto Jorge e Eucanaã Ferraz, que uma amiga ressuscitou da minha memória há poucos dias. A cair e a estar de pé: tudo isso o poema ensina. O que é preciso é aprender a ler – as letras e os livros, tal qual as pessoas, as coisas, o ar rarefeito em volta. Por isso, como resposta tardia a quem perguntava, aí estão os poetas, seus poemas, suas verdades, o diálogo instaurado entre dois seres. Talvez seja aí, no diálogo, que as dicotomias se resolvam, as falsas e as outras, as talvez incongruentes.

O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada sutil
uma vênia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
Luiza Neto Jorge

O poema ensina a estar de pé. Fincado
no chão, na rua, o verso não voa,
não paira, não levita.

Mão que escreve não sonha. Em verdade,
mal pode dormir à luz das coisas
de que se ocupa.
Eucanaã Ferraz

Imagem: escultura de Raquel Zocco

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