Dois apontamentos sobre Africa Africans

1) Tenho um amigo pintor, talentoso que só, com quem aprendo muitas coisas. Dia desses, disse-me que, considerando-se a ignorância, a mediocridade pode ser um grande avanço. Ontem mesmo, ofereceu-me mais uma afirmação: só há duas coisas pelas quais somos responsáveis, a atitude e a quantidade. A qualidade não nos pertence. Ora bem.

À entrada da exposição Africa Africans, que ocupa um espaço amplíssimo do Museu AfroBrasil, há uma sala de “artes primeiras”. Esse é o termo que o curador Emanoel Araújo muito bem usou, numa forma de arrastá-las para longe dessa mania que temos de chamá-las de primitivas, e assim relegá-las a um confortável pano de fundo sem contornos atuais.

As “artes primeiras” são aquelas que, na minha prática pedagógica, por vezes intimidam, por vezes assustam, tem aqueles a quem repugnam, como que são repelidas pelo nosso senso “ocidental” de olhar o mundo. Deixar-se entrar nos domínios dessas “artes primeiras” é sair da ignorância. E, enquanto não se chega a outro lado, estaciona-se na mediocridade. Que é aquele estado em que começa a saber-se que o saber é infinito, incomensurável, plural, irrestrito, livre e dinâmico. E, assim que se começa a entrar nesse outro domínio, não há como: algo transforma e modifica a nossa atitude. E, assim, dá-se um passo adiante da mediocridade – e que passo!

Já a quantidade vem com o tempo, seu aliado. A seguir a essa sala das artes primeiras, começam as obras dos artistas contemporâneos. Prefiro assim, sem o epíteto “africanos”, que eu não atino a saber qual relevo signifique. Basta-me o contemporâneo. Mesmo que me aflore uma dúvida se estaremos, mesmo, ocupando um mesmo tempo, ainda que variados espaços.

Passo pelas fotografias impressionantes de Alfred Weidinger, retratos de reis de olhos únicos. Ando devagar e sem rumo definido – um ar de caos muito particular que tem este museu, e que me encanta sempre, porque ser único e múltiplo ao mesmo tempo. Paro diante dos corpos que se interpenetram, um por dentro do outro, outro por fora do um, do daomeano Rémi Samuz. Não há ruídos, são muitas falas, neste seres sem rosto e nem carne. E elas são minhas. E suas.

2) Caminho pelas ruas desta cidade grande. A África está em todo lado. Dentro e fora do museu. Por dentro das pessoas. Por baixo delas. Em volta, acima e embaixo. Entrar no museu ajuda a ver a vida. Ajuda a perceber-se vida. A encantar-se com o poder de leitura, digestão, substanciação e alimento que um ser humano oferece a outro ser humano.
Caminho pelas ruas e vejo a África em cada pedaço de chão. Porque ela é, mais do que está. Assim como esses artistas, de lugares tão distantes quanto Gana ou Madagascar, me estão, nos lugares da alma que reservo com ardor àqueles que, saindo a passos largos da mediocridade, entram nesse lugar para onde gosto de olhar, e que se chama verdade humana.

São eles que nos afastam da mediocridade. São eles que nos agarram as mãos e nos transformam os horrores em sonhos. Porque os sonhos engravidam-se e essas mãos que se precisam surgem de onde menos se espera. Talvez seja para isso que a arte existe – porque nos torna mais humanos, como bem disse Antonio Candido, mas também porque nos torna menos medíocres, menos ignorantes e mais capazes de afeto.

Africa Africans
Museu Afro Brasil/Parque do Ibirapuera/Portão 10
Visitação até 30/8/2015 Patrocínio Companhia Paulista de Parcerias – CPP, Odebrecht, Itaú Realização Museu Afro Brasil, Governo do Estado de São Paulo – Secretaria da Cultura, Ministério da Cultura – Lei de Incentivo à Cultura

Imagens
Painel de Hector Sonon, do Benim, à entrada da exposição Africa Africans.
Rémi Samuz, do Benim
Bruce Clarke, da Inglaterra/África do Sul
Fotografias de Cândido Ribeiro

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