Dos diários

“Lembra,  meu amor, de todos os lugares que já visitamos planejando viver em cada um deles, como se pudéssemos viver todas as vidas que temos reservadas em uma só? Uma urgência de querer ser tudo a meio do caminho de ida? Sem pensar em como fazer e já fazendo, num esboço de percurso a traços largos, abertos, amplos, que se constrói só de palavras e desejo e se satisfaz pleno? Você lembra, meu amor, aí onde você está agora?

Como, num dia, a moenda de farinha de madeira antiga plantada no centro de um vale ensolarado, um rio cruzando-o a meio, cão tão branco como a lua atravessando-o para vir ao nosso encontro. Como, num dia, a fábrica de rapadura no centro do sertão queimado, quase abandonada de tão à venda e por tanto tempo. Como, num dia, o boteco à beira mar, na calma das praias abandonadas. Ou a lua alta por detrás de um castelo medieval. A escarpa sanguinária projetando-se sobre o mar. O quintal de alfaces e couves verdes na beira da estrada de muros de pedra, uma senhora de preto acenando que entrássemos. O mercado barulhento a meio do deserto escuro e fundo. A casa abandonada do vigia das ondas do fim do mundo. A enseada tranquila que de repente alguém transforma em cenário de um amor improvável. Ou a dureza da pedra no chão de terra, a vida dupla. Ou a fome. O olhar da desgraça. Todos esses que se fizeram nossos lugares de morada.

Por isso a nenhuma cidade posso ocupá-la como lugar de vida imaginária sem a sua companhia.

As coisas passam por mim e ficam, demoram-se nas perguntas que me fazem, curiosas do reflexo que teriam nos seus olhos, se você aqui estivesse. Como esta feira livre, e o seu mar, as pessoas que compram, planejam, sorriem, falam quase que em outra língua, um novo acento na emoção do tempo. E vejo por dentro como só as solidões como esta que construo com a sua ausência me fazem sorrir os lábios. Ouço as perguntas que você faria, escuto as histórias que descobriria e vejo os caminhos que se abririam só porque somos tão diferentes naquilo que ouvimos, perguntamos, descobrimos. Como dois mundos que se encontraram e se juntaram sem saber mais onde começa um e termina o outro. Nem a ausência, a distância, o som mudo da voz que se cala mudam a vida.”

(feira do Brique, em Porto Alegre, onde nasce a personagem)

4 respostas

  1. Ai que saudade do Brique,Anaaaaaa!!! Viu que talentosos são os gaúchos?!
    E o parque da Redenção… lindo e bom de sentar num banco e ver o movimento… depois comer um churro uruguaio. Hum…
    Saudade de POA e de ti,guria!
    Beijoca com LUZ e bom regresso.
    Love U,
    Neca

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