As horas que passam sentadas dentro deste avião oferecem-me duas sensações: a de não ter onde ir (um considerável e paradoxal desconforto grau x de ansiedade) e a de ser invadida, obliterada por um turbilhão incessante de ideias, todas elas ligadas às minhas muitas pernas imóveis, apertadas neste espaço que cada vez se torna menor e as condena ao estado implacável de repouso. Essa invasão de motivos desencadeia outro tipo de ansiedade, que suplanta aquela de tipo x, um alicerce estendido de razão e força. Nesse ponto preciso, sufocada entre ansiedades, posso ser a imagem que reflito no espelho; essa que, quase na hora do pouso, toma a rédea, o pulso, o chão.
Meus companheiros de voo, sentados a um lado e ao outro, devem entender pouco dessa que pareço, tomando e abandonando, consecutivas vezes sem conta, a caneta e o caderno pequeno que não me abandonam. Como um aluno em primeiros dias de escola, que esconde da professora o que escreve no momento em que o faz, preferiria que se ocupassem da própria vida e deixassem seus rabos de olhos presos a si mesmos. Mas a mão tomou posse do olho, e as palavras que soluçam precisam de ambos, e não ouso suspender a escrita por medo a que a ansiedade x volte zombeteira e me atormente nas mesmas perguntas, e a resposta não possa ser outra a não ser o encharcar do mundo com as mais grossas lágrimas que conheço.
Enquanto tudo isso acontece, ao mesmo tempo em tempos sobrepostos que confundem passado e presente, o olho de Ângela, a comissária de bordo, está fixo nos movimentos da pele da minha testa. Pergunto-me se terá ela a capacidade de ler a aflição alheia nas rugas da sua face. Olho-a, e ela retribui-me um sorriso, fecha de leve os olhos e nas suas pálpebras está escrito “stand still”.
Imagem: Tai Ribeiro
Uma resposta
É imperativo chorar: pelos olhos ou pelos dedos.