Liberdade

Era essa a sua escolha. Vago, vazio, ocioso e desocupado. A qualquer ameaça de transbordamento, embalava-se. Como uma caixa hermética. Não lhe interessava nenhuma ocupação de traçado compromisso, e por isso passeava entre aventuras, até o momento em que começasse a pensar que o “a” poderia transformar-se em “des”. Não lhe ocorria que a palavra um dia prescindisse de prefixos, talvez porque entendesse que a sorte não é coisa que ande aos sorrisos pelas esquinas, e mesmo que o fizesse… Seus olhos embalavam-se tanto quanto, e nada via, assim todo embrulhado. Aos olhos, seguiam-se todos os sentidos. Apenas o maior de todos, a pele, lhe segredava outras coisas, mas ele estava tão bem treinado no olhar silencioso e vago e vazio, que a pele calava-se e sofria suas dores dentro dos poros.

Esses, às vezes, choravam. Ele diria aos amigos que no verão suava demais. Mas era choro incontido. Talvez ele sequer soubesse disso. Habituou-se a andar com uma toalha dentro do carro, e enxugava sobretudo a nuca. Depois, porque até a pele é daquelas coisas que perde a memória, as lágrimas paravam de suar e a vida parecia voltar ao normal. A tudo as pessoas se habituam. Essa coisa vaga e vazia e ociosa que ele chamava de normal.
Quando ela chegou, e a partir daí sempre que chegava, era a pele que dava o sinal. Não em forma de suor, porque não era choro, mas em forma de calor, porque era desejo. Os olhos não perceberam, estavam entretidos em outras coisas. O gosto ficou-se por ali mesmo: ainda não a havia provado. Mas de repente ela chegou, e chegou de fato, ela própria sem saber a que vinha e a que chegava. E com ela aquele calor que só parecia encontrar sossego e refresco na companhia.
Amoleceu. Abriu espaço, do tamanho possível. Todos os pequenos nadas deixando o que é vago com sabor de preenchido. Mesmo que ele não soubesse dizer, e nem se arriscasse a saber. O que era melhor, isso de tentar nem saber. Poderia acordar aquela necessidade aprendida de ser hermético.
Demorou muito. Mas a pele não tinha pressa, só a do desejo, e essa não é inimiga da perfeição. Abria as portas e ventilava a vida. Por tempo pouco, talvez, e durante um sempre misturado à sonoridade dos poucos instantes. Mas ainda assim era como correr em campo aberto, sob a luz do sol e com os braços desprotegidos de par em par. A pele permitia-se respirar, e penetrava a outra com ousadia e firmeza, como se nunca o medo houvesse feito casa por entre as suas cicatrizes. Então, e durante toda essa eternidade, a felicidade reinava plena, e ocupava.

Imagem: grafite no banheiro feminino do 1º andar da ECA/USP.


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