Um querido amigo confidenciou-me, esta semana, tudo parecer estar rápido demais em sua vida. “Não consigo digerir e decantar tudo o que está acontecendo”, disse ele. “Parece-me que preciso parar, para poder olhar em volta e entender o que está à minha volta”. Não é ainda, entendi, querer saber o que fazer. É entender o mundo ao redor e provavelmente, mais ainda, o mundo dentro de si. Não consegui dar conselho algum que eu mesma pudesse ter aproveitado, mas fiquei com a sensação pairando ao meu redor, várias vezes voltando como pensamento, lembrança, como impressão. Fiz o que costumo fazer: pedir orientação e ficar à espera.
Há meses atrás, minha irmã ofereceu-me um vidro de óleo essencial de Vetiver. Tinha ouvido falar bem vagamente desse óleo, ela disse que me faria bem, segui sua intuição e usei-o alguns dias. Não sei se o óleo ou os dias, tudo estava muito calmo e assim permaneceu, firme e seguro.
Hoje cedo, preparando o dia de quinta feira, caiu-me o óleo nas mãos, literalmente, da prateleira do armário em que esbarrei. Decidi entender a que vinha.
O óleo de Vetiver é conhecido por nos ajudar a aterrar as nossas emoções, a voltar ao nosso próprio centro. Desconfio que tenha a ver com a forma como crescem as suas raízes, voluntariosas na direção do centro da terra, sem se abrirem em leque e se espalharem em volta. Formam um todo quase esponjoso (deduzo, pelas fotografias), que parece absorver o que está ao redor enquanto continua firme em direção ao centro. Abro o vidro e fecho os olhos – conselho que sigo sempre, de vó Chica, quando quero apreciar alguma coisa. Muitas vezes são os cheiros que me atingem primeiro, mas logo a seguir, e de repente, é a audição que desperta, e então eu ouço.
Vetiver tem cheiro de madeira, madeira úmida e terrosa. Só cheiro, porque é raiz, mas mesmo assim, em perfumaria, figura ao lado dos patchouli, cedro e sândalo. (Descubro que ganhou fama em 1957, quando foi lançado com esse nome mesmo, Vétiver, pela perfumaria Carven; que o Vétiver da Guerlain tem um toque picante, graças a uma pitada de noz moscada; que Térre d’Hèrmes também tem boas doses de vetiver, assim como outro da Guerlain, Vétiver Tonka, com toque de amêndoa e baunilha; que o Vétiver Cologne, da perfumista Goutal, é mais cítrico e solar e que o Sel de Vétiver oferece um aspecto mineral algo salgado. Desde que li “O Perfume”, do Patrick Suskind, nunca mais pensei em perfumes.)
Perfumes à parte, o que me interessa (e interessará a meu amigo) é que o óleo de vetiver resgata de dentro de nós as emoções profundas submersas nos mares do nosso inconsciente. Não sei se, por isso, lho recomende. Em momentos específicos da vida, pode ser que as emoções que subam à tona sejam por demais poderosas e assombrosas, mesmo sabendo que o poder de vetiver, de aterrar e dar chão para essas emoções, seja um de seus grandes trunfos. É uma jornada dupla, sussurra vó Chica, como tudo na palma da vida. Várias linhas que se cruzam, vários sulcos se aprofundando, criando novos veios, novas veias, sangue novo circulando. Nada disso é indolor, mas não é preciso sofrer.
Vetiver, em tamil, língua de onde nos chega a palavra, significa “machadada para cima”. Arriscado e perigoso, usar lâminas cortantes viradas para cima, mas parece ser a única forma de arrancar as raízes de vetiver para delas poder extrair seu óleo e usá-las para mais uma infinidade de coisas há mais de 6000 anos. O mais seguro, creio que lhe vou dizer, será primeiro verificar onde estão seus pés, abrir a consciência para o onde se pisa, antes de adentrar com confiança e força esse mundo vetiver. Ser submergido no mais profundo das emoções para ser pela mesma mão terapêutica, guiada pelo cheiro do vetiver, devolvido à superfície, talvez quase sem ar, talvez quase sem chão, mas percebendo à chegada os pés mais firmes na Terra, e as emoções ao seu lado, tão afirmadas e centradas quanto o próprio ser, a quem vetiver ajuda como se fôssemos solo fértil onde é bom cultivar. Como em tudo, caberá a cada um escolher, de acordo com o lugar que a sua consciência ocupa e os caminhos que dentro dela deseja desbravar.
(Como usar o óleo de vetiver? Abrindo o vidro e aspirando seu aroma. Combinado a outro óleo, pode ser esfregado nos pulsos (essa foi a receita da minha irmã). Em inalações, funciona bem combinado a alfazema/lavanda: apazigua e tranquiliza a mente. Em massagens, combinado ao óleo de coco, esfria corpo e alma, tensões e ansiedades, ajuda a lidar com insônias renitentes. Crianças que chegam da escola irritadiças, como se tudo fosse demais? Lição demais, aulas demais, pressão demais, sentimentos demais? Um pouco de vetiver esfregado delicadamente no pescoço ou na sola dos pés, pode trazer alívio e permitir que recuperem seu próprio ritmo.)
Site bacana sobre perfumes http://1nariz.com.br/2013/falando-perfumes