10 de Copas

Tão difícil quanto atravessar longos e sombreados desertos é encontrar-se frente a frente com a satisfação de um ciclo que se realiza e, consequentemente, chega a seu fim. Se o deserto nos assusta por nada sabermos sobre ele, especialmente quando a noite desce e tudo mergulha num breu, de outra forma e com outras qualidades, os fins de ciclo podem também nos atemorizar e lançar dúvidas sobre o que vem pela frente, agora que parece tudo haver se completado.

Pois bem. Quando um ciclo se fecha, é tempo de celebração. Qualquer que seja o ciclo de que estejamos falando. A lei da vida é feita de e através deles, e é no ritmo saudável do abrir e fechar que caminhamos e nos desenvolvemos. Portanto, a semana já ressoa festa, porque o 10 de Copas espalha ao seu redor a alegria e a sensação de plenitude dos ciclos coroados pelo fim. Veja se não é um paradoxo. Mas o que é preciso, em presença deste arcano, é não desperdiçar o momento.

O 10 de Copas potencializa tudo aquilo que possa ser lido como alegria e felicidade ofertados por sentimentos, ligações e realidades elevadas. Não será a semana das alegrias pequenas, diz-nos o arcano, mas sim da sensação de ser (ou estar) preenchido por algo que é mais sublime e, se deixarmos, permanente. E nem será o caso de reconhecermos imediatamente a boniteza e a vantagem desse ciclo que se fecha. Alegria não quer dizer felicidade imediata, veja bem.

Como se deixa uma alegria ser duradoura? A chave está no verbo: deixar. As atribulações do nosso pensamento, as preocupações que colocam obstáculos e mais obstáculos em nosso caminho, precisam silenciar. Especialmente aquelas que reclamam da sorte, em vez de simplesmente aceitar, com o coração aliviado por isso, que umn ciclo chegou ao fim e que é preciso celebrar esse fim. Seja ele qual for, não se esqueça. Reconheça-o, permita que se consume, aceite, agradeça – e é a vida que segue.

A vida segue, os fins de ciclos a impulsionam.

Imagine você que a sorte seja um ser, cuja existência seja dedicar-se amparar a vida de todo tipo de eventos que estabelecem o rumo dos acontecimentos. Imagine que Dona Sorte receba de você nada, a não ser reclamações constantes, chorosos “mas que má sorte a minha”, ou “eu não tenho sorte mesmo”, ou “o que eu queria era ter sorte na vida”. Como pensa você que Dona Sorte que acompanha a sua vida se sentirá ao seu lado? Sorte, palavra que chega do latim sors, é a parte, a porção, o que cabe a cada um. Mais nada. Portanto, não há nada que se viva ou receba que não seja porque é seu. Qual sentido haveria em reclamar do que é seu? O mais poderoso, nessa conversa com Dona Sorte, é observar e compreender que o que pensamos que seja “má” sorte muito provavelmente antecede e prepara a “boa”sorte. É preciso ter abertura para os ciclos que se anunciam, seja ao se abrirem, seja ao se encerrarem.

Revista-se, esta semana, de apreciação pela sua vida. Aproveite os bons momentos solitários, ou com os amigos, ou com a chegada vibrante de uma nova estação, após o equinócio do último fim de semana. Assim como a Natureza se renova, e se oferece em nova roupagem, é provável que muitas outras situações façam o mesmo, e nós em muitas delas. Saia dos atoleiros que se percebam como tal – porque não dizer “acabou!”para aquela situação que se reconhece como já finzalizada, porque estagnada e portanto nociva à vida? É preciso, e muito propício esta semana, fechar ciclos.

Distribua a sua riqueza, para que outros possam beneficiar-se também, e os ciclos de virtude e prosperidade possam ser restabelecidos na vida de todos, que é também a vida de cada um. É muito difícil ser feliz ao lado de pessoas infelizes, e é possível contagiar o outro com a própria felicidade. Esforce-se por sair de seu lindo e acomodado recanto para se perceber parte, para saber que a sua parte é parte de algo, e esse algo é a vida, a humanidade, este planeta tão repleto de ensinamentos profundos. Que a nossa passagem por ele construa mais equilíbrio e irmandade, e que a nossa semana possa ser um ponto de virada para uma vida mais inteira, coerente e despreocupada.