O naipe de Copas abre esta semana especial, semana de equinócio e semana de retorno da volta zodiacal a seu início, o reino de Áries. Uma semana que prenuncia começos e inícios, fôlegos novos e renovados. É neste lugar especial que o 2 de Copas nos encontra, e através dele podemos pensar esta semana a partir de um ponto de vista, em si mesmo, também bastante especial.
Na tradição esotérica, o naipe de Copas, e especialmente o arcano 2, fala de processos que alargam e aprofundam em nós a possibilidade de receber e dar. Por isso, esse naipe não é tido bem como um caminho, por onde nos perdemos ocasionalmente, e onde nos debatemos por encontrar o lugar correto para colocar o próximo passo. O naipe de Copas fala de outras coisas, que nos levam não só à vida interior, mas também ao contato com realidades mais sutis e intangíveis da vida.
E é este naipe que abre a semana e nos irá introduzir no equinócio. Seja de primavera, no hemisfério norte, seja de outono, no hemisfério sul, todo equinócio nos coloca em relação com o centro do nosso sistema, o Sol. No momento do equinócio, seus raios incidem diretamente sobre a linha do Equador, e noite e dia têm a mesma exata duração em ambos hemisférios. E esta é uma chave de compreensão deste 2 de Copas, o grande arcano da unicidade.
Há uma luz infinita nesse arcano, e essa luz pode chamar-se comunhão. Esse lugar que por vezes ocupamos em que nossa copa se preenche de luz e quem está ao nosso lado também se preenche de luz, porque está ao nosso lado. Em presença do 2 de Copas, seja a situação que estiver, somos convidados à comunhão com quem está conosco, seja na posição que for. A sua taça se enche, e a do outro também.
O que nos mata? O egoísmo. Essas taças só funcionam se compreendermos profundamente que uma taça só se enche se a outra for preenchida, e vice-versa. Não faltará nada que as preencha, se se mantiverem na relação correta, que não é competitiva nem avarenta. A vaidade e a intolerância também destroem essas duas taças, e é preciso estar alerta, porque esses três elementos (egoísmo, vaidade e intolerância) sabem vestir-se com muitas roupagens distintas, e assumir ares nobres e serenos. A pureza das próprias intenções é a forma de discernir por entre as sombras do mundo e os máscaras das pessoas, e essa pureza se alcança com o cuidado que temos com a nossa taça, e o que permitimos que a preencha. É nessa taça que vibram, respiram e replandescem as nossas intenções.
Pense que será com essa taça que dará de beber ao outro. Apenas a pureza da água pode ocupar essa taça – qualquer coisa que se misture a essa água, com a melhor ou a pior das intenções, alterará a sua pureza. A palavra “cuidado” deriva da palavra latina cogitare, que significa pensar, ponderar, refletir, considerar, cogitar. Muitas palavras que, no seu conjunto, nos transmitem a ideia de que é preciso agitar os pensamentos dentro da própria cabeça para ter cuidado. O 2 de Copas nos impele a pensar e refletir, e a assim termos cuidado com duas coisas: com o que colocamos dentro da nossa taça, porque ela inevitavelmente transbordará e preencherá a de outros que se coloquem ao nosso lado; e com as taças ao lado das quais nos colocamos, porque através delas reconhecemos que poderemos ser preenchidos pela água, ou pela luz, com que o portador dessa taça preenche a sua. Além disso, é fundamental saber em que posição se está, porque na relação com o outro, na relação com o mundo, ora ocupamos o lugar de uma taça (a que recebe e transmite) ora o lugar da outra (a que se deixa permear e preencher).
Por isso, esta é uma semana de saber o seu lugar, e de portar-se conforme o lugar que se ocupa. Ao longo das horas de um dia, ocupamos muitos: de mestre, de discípulo, de mãe, de pai, de auxiliar, de autoridade, de filho, de filha… Incontáveis lugares que uma pessoa pode ocupar. Saber qual é o lugar que se ocupa demanda cuidado, e demanda coragem. Há que ligar-se ao outro com afeto, mas não há que deixar-se pisar por ninguém. Embaixo do pé de alguém, perceba, é um não-lugar, do qual se sai com coragem e com cuidado.
Perceba as taças presentes em sua vida. Respire. Dance. Repare no imenso milagre que é acordar todas as manhãs, e perceber que se está vivo. Agradeça, e comece desde cedo a ter atenção e cuidado com o que a sua taça oferece ao mundo ao redor, a reconhecer as taças através das quais as suas são preenchidas e a agradecer, de novo, quando o dia acaba e se percebe os muitos pequenos milagres que aconteceram ao longo de um dia apenas, com a graça e a presença desse doador universal de vida, o Sol. Uma boa semana, e uma boa entrada em todos os lugares onde seja preciso entrar.
