A Lua

Existe um momento, antes do amanhecer, em que parece que a escuridão se aprofunda. Quando pensamos que finalmente a luz se fará, parece anoitecer ainda mais um pouco. Esse momento reflete a energia do arcano XVIII, a Lua, em nossa semana. Demanda coragem, e demanda não se deixar atribular excessivamente pelas condições que o mundo oferece (primeiro) e pela irritação crescente que pode emergir de dentro de nós (segundo). É bom que se dividam essas questões por partes, para que inclusive se possam separar umas das outras, e não as confundir. O que é seu, é seu; o que é do outro, é do outro. Metade das confusões latentes da semana podem ser superadas com esse pensamento em mente. Torne claro se o que sente é seu, ou é do ambiente ao redor.

Como se encontrássemos os mastins de Hécate por entre as ruas da nossa semana, podemos ser acometidos por alguma forma de medo – prevenção, ao menos. A luz da Lua, pálida, inconstante e fria, não se parece com a luz do Sol. De nada nos serve o intelecto diante da luz lunar – as formas claras expostas pelo Sol se dissolvem, e o que vemos são formas fantasmagóricas que se transformam em mil irrealidades. Nesse campo, a intuição apenas pode ser a nossa mestra, e para estar coligado com ela é preciso compreender de forma correta o arrepio que provoca o desconhecido.

É indispensável, esta semana, estar atento aos medos que nos rodeiam (primeiro) e aos que nos habitam (segundo). Também aqui há que separar as coisas. Se o medo é externo (dos outros, por exemplo, e qual neblina começa a nos envolver) é preciso reunir todas as suas forças de intuição e de auto-preservação e decidir o que fazer: é possível ser útil no dissolver desse medo, ou não há nada a fazer, tamanha é a força de quem o carrega (e alimenta, consequentemente)? A resposta dirá se é para ficar onde se está, ou se é para fugir. Não há problema nenhum em fugir, veja bem. O instinto de auto-preservação precisa funcionar. Preste atenção à sua sabedoria interna. Nem tudo o que bater à sua porta é de sua responsabilidade resolver. Manter-se calmo e equilibrado esta semana já é uma imensa ajuda à Humanidade.

Se o medo é seu, e você já o localizou, por favor não o espalhe. Resista à vontade de compartilhá-lo, de liberar-se dele transferindo-o a outra pessoa, ainda que a intenção seja o puro pedido de ajuda. Ao menos, garanta que a pesssoa ou grupo a quem pede ajuda tenha alguma condição real de oferecê-lo. Não está fácil para ninguém, e nem todo mundo terá, esta semana, a capacidade de sustentar o próprio medo de forma razoável, quanto mais o alheio.

Isto não quer dizer que você não deva colocar para fora as suas emoções – muito pelo contrário. Mas é preciso que seja de formas que não sirvam de estopim à intranquilidade alheia. Cante, dance, escreva, pinte. Procure atividades ao ar livre, gaste energia física para que a mental se equilibre e, com ela, a emocional se aquiete. Há uma imensa gama de possibilidades de aprendermos a lidar com as nossas emoções, de forma autônoma.

Se os campos da meditação (que disciplina a mente) e da oração (que abre o coração) tiverem sido praticados ao longo dos últimos meses, será mais fácil – mas não tão fácil como em outros momentos. Pode parecer que se desaprendeu. Insista, mantenha o ritmo, persevere. E, se esses lugares não foram cultivados, é hora de começar. Sempre é. Conecte-se a qualquer egrégora, e avance. É muito (mas muito mesmo) importante entender o que significa o medo que se sente, para não se deixar inundar, absorver e afogar por ele.

Presentimentos nada agradáveis podem surgir, pesadelos, sonhos atribulados… há que respirar fundo e seguir. A Lua é uma carta de renascimento, de esperança de luz após a noite escura – “a noite escura da alma” de que o místico espanhol San Juan de la Cruz falava. Deixe os fantasmas em seus armários, para que não atropelem a sua semana. Ao menos, não os vista, deixe-os estar como são. Escape o quanto puder de intrigas e fofocas (não as propague), administre seu ciúme e não se altere diante do alheio. Escolha as batalhas que queira lutar com muita atenção e afaste-se das ilusões e dos entorpecimentos da vida. Sim, esta semana também passará, e o Sol voltará a brilhar. Mas entenda que é preciso que a noite se aprofunde para que a alvorada se anuncie. Aquiete-se e aguarde.