Um sacerdócio é um ofício que pode se vestir de muitas roupagens. Refere-se a quem se oferece ao que é sagrado e por isso refere-se, no fundo, a todos nós. Todos nós, que podemos nos oferecer ao que é sagrado em nós e em nossas vidas. Talvez por isso ouçamos às vezes dizer que somos sacerdotes de nosso próprio templo, e assim é, porque o nosso templo é a nossa vida interior, e dela somos sacerdotes. Estamos diante do segundo arcano do Tarot, a Sacerdotisa. Há um chamado, portanto, para que o sagrado em nós possa ser reverenciado, revelado e aproximado. Aset, a grande Mãe da magia e da cura, talvez seja uma das primeiras representações humanas desta força, séculos mais tarde reverenciada como Ísis, séculos depois como a Virgem Mãe. Diante dela, é inevitável que nos prostremos, porque são dela as chaves para entendermos o nosso lugar mais profundo.
Entre os cristãos, estamos em plena Sagrada Semana, tempo de grandes revelações, também a semana do silêncio. A Sacerdotisa pede-nos algo semelhante: que silenciemos, que reduzamos o ritmo, que permitamos que, através da sua consciência cósmica, possamos ter acesso às mensagens de nosso Espírito. É uma semana importante, que pode trazer alívio e compreensão (um sem o outro nada são) a perguntas antiquíssimas que tenhamos. Mas é necessária uma certa frieza para não nos iludirmos, nada há de arrebatamento nesta Sacerdotisa, até muito pelo contrário. Há uma contenção, um resguardo, um isolamento muito salutar.
As vivências espirituais tornam-se um lugar importante sob a influência deste arcano, mas há cuidados a ter. Especialmente com relação a excessos, a deixar-se habitar de forma extremada por experiências sem ter a contraparte do mundo físico, material, ao qual pertencemos como seres encarnados que somos. É preciso proteção: véus e claustros são peças importantes dentro das religiões, sabedorias antigas que nos permitem compreender o quão necessária é a proteção, especialmente com relação a nós mesmos, e à nossa grande capacidade de vermos o que queremos ver e ouvirmos o que queremos ouvir.
Esta semana pode limpar e curar muitas feridas do passado, e será mais sábio silenciar sobre elas e não se espantar excessivamente com nada que pareça ou seja sobrenatural. Há que encontrar equilíbrio entre a escuta da voz interior (e saber discernir entre as várias que podem querer dizer algo, este não é um terreno fácil) e ficar à espera que algo ou alguém venha resolver os nossos problemas.
Reserve tempos diários (repare no plural!) para se retirar em silêncio para dentro do seu próprio claustro, a morada da sua Sacerdotisa. Contemple esse lugar de olhos fechados, e deixe a porta aberta. Permita que, do fundo das profundezas de si mesmo, as mensagens encobertas tenham seus véus retirados. Dedique-se, antes de adormecer, a observar de trás para a frente os episódios do seu dia. Não os avalie, apenas os faça deslizar diante dos seus olhos fechados. Peça orientação às forças da noite, às forças da sua Alma. Guarde seus sonhos, acorde devagar. A pressa, ao acordar e ao adormecer, fará com que as mensagens que lhe cheguem se desfaçam como névoa. Permita-se entrar em seus territórios desconhecidos, com serenidade e silêncio. A Sacerdotisa, conectada aos lugares sagrados da vida, lhe ofertará o que for preciso. É possível confiar.
Respostas de 6
Que semana gostosa de se esperar pela frente, me sinto aconchegada! Obrigada pelos textos sempre delicados e inspiradores!
Que assim seja, uma proveitosa semana!
Gratidão pelo chamado a essa interiorização. A semana já começou pra mim com um sonho bem forte, alertando para a necessidade de proteção. Guardar alguns momentos do dia para silenciar é algo realmente valioso no mundo acelerado e tão saturado de informações.
Sim, com certeza. Os sonhos são poderosos orientadores, que bom que já começou a semana assim!
Muito sábio e complexo, mais realmente é oq pressinto no momento. Fé , paciência e muita calma em um momento muito conturbado.
Tem razão, é preciso calma para poder entender o que nos acontece. A pressa seria o pior caminho.