Dia de chuva em Lisboa

Saio à rua para distrair-me, das assombrações que batem à porta. Faz frio e chove – uma chuva miudinha e persistente; a tentação de andar sem guarda chuva é grande, e eu não lhe resisto. Depois, vejo que péssima ideia, porque estou encharcada de um jeito sutil, miudinho tal qual esta chuva que cai e se entranha até aos ossos sem que eu perceba. Lisboa é assim: deixa-se andar, a sol ou a chuva, sem que se percebam de antemão os problemas. Depois, quando chegam, é praticamente sempre tarde – as caravelas já se foram, os heróis estão enterrados, deixaram-nos a sós com os seus despojos de vida. Museus abarrotados de coisas que já não são nossas, porque estamos longe de ser aqueles que fomos. Na verdade, foram outros que o foram; não passamos de cópias mal feitas daqueles que queríamos ter sido.

Vou até à estação e apanho o comboio. O Cais do Sodré continua no mesmo lugar e pela mesma calçada de sempre subo pela Rua do Alecrim acima. Passo os olhos pelo Camões, que lá continua também no mesmo lugar, mas mais limpo do que me lembro. O meu destino é o Chiado, onde me quero sentar para ver se, desdizendo a memória seletiva que cada vez mais percebo em mim, me lembro de como era.

Sento-me na mesma cadeira que Pessoa talvez tenha ocupado muitas vezes e deve ser a sua inspiração que me faz pensar em ir almoçar ao Martinho da Arcada, espécime raro de restaurante que sobrevive aos séculos, lá embaixo no Terreiro do Paço – mas lá começou a chover outra vez e eu fico-me por aqui.

Gosto de estar aqui, no Chiado, em missão contemplativa das horas a passar. Não sei por quanto tempo, Pessoa também não o sabia, e o que vejo difere bastante daquilo que ele via. Isso se olho pra fora, porque aqui dentro é diferente. Os que estão aqui sentados, nas mesmas cadeiras de palhinha e às mesmas mesas de mármore, parecem parados no tempo, porque a modernidade fica sentada lá fora, fotografando a estátua que fizeram em bronze, imortalizando algo que já não é mais e não passa de uma anedota que não vale a pena. A mania das glórias passadas é um dos passatempos preferidos dos lisboetas. E os turistas logo se encantam com a superfície, e esquecem-se de ir pelas vielas escuras e pelas calçadas sem fama.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia mais

Agendar consulta

Mandala de Aniversário

Valor: R$ 440

Código de pagamento PIX "Copia e Cola"

QR Code do PIX:

Agendar consulta

Mandala de Aniversário

Valor: 85 €

Faça o pagamento via IBAN

Código IBAN
DE09 1101 0100 2548 6948 77

QR Code IBAN

Agendar consulta

Leitura de Tarot

Valor: 50 €

Faça o pagamento via IBAN

Código IBAN
DE09 1101 0100 2548 6948 77

QR Code IBAN

Registrar-se

Dados Pessoais
Suas informações e dados de contato
Nome*
Email*
Celular*
Somente números, com código de país na frente!
Localização*
(Para outras localidades, escolha Europa)
Dados de Login
Credenciais para acessar sua conta
Nome de Usuário*
Senha*
Confirmar senha*
Dados de Nascimento
Para fins de análises astrológicas no momento dos atendimentos
Data de Nascimento*
Horário de Nascimento
Local de Nascimento*
Ao preencher e enviar meus dados, informo que estou de acordo com a Política de Privacidade  e os  Termos de Uso.

Agendar consulta

Leitura de Tarot

Valor: R$ 230

Código de pagamento PIX "Copia e Cola"

QR Code do PIX: