Em trânsito. Entre um lugar e outro, o coração entre o batimento e o descompasso, sem lugar certo ainda, oscilando como um pêndulo sem haste. Mudanças são bons momentos para se vislumbrar o que acontece quando se vai e ainda não se chegou. Nada que seja desagradável – muito pelo contrário. A vida no fundo fica mais simples, mais clara, como se se carregassem menos coisas dentro da mala – ainda que a mudança pese toneladas e precise de um caminhão do tamanho do mundo pra carregar o que se parece com uma vida, mas não é a vida. Porque a vida é o que fica do lado de fora, lá e aqui. A vida não cabe. A vida não sobe no caminhão. A vida fica ao nosso lado, este de dentro, respirando em surdina.
As coisas que valem não cabem no caminhão, nem sequer dentro da palma da mão. São instantes fugazes, imperceptíveis, minúsculos, quases nadas que se perderiam não fosse um estado de comoção repentino. A mão não os colhe, são avessos a caixas, têm horror a cadeados, fogem se os tentamos fazer durar além da sua própria natureza. Mas de repente o estado de comoção se anuncia, e aí sim um instante entra dentro de nós, torna-se nossas entranhas, nossas vísceras mais escondidas, essas que poucos veem, poucos ouvem, quase ninguém colhe por entre os dedos sem deixar que caiam e se diluam no cotidiano apagado.
E nesse de repente a casa esvaziada de mim enche-se do mundo do outro, das coisas do outro, das lembranças do outro. Não sei se pedem licença para entrar, mas eu concedo-a, se me compete. E peço, a quem possa competir a licença, a permissão necessária. Em silêncio, de olhos fechados, sem que ninguém ouça ou sequer responda – é o pedir que importa, nem é preciso se ocupar da resposta. Pedir para que a despedida não o seja, mas presença. Para que a ida seja mais chegada que partida. Seja mais encontro que distância medida em quilômetros – desses que se estendem pelas estradas afora, cada uma numa direção, cada uma numa intenção, e o pensamento em uníssono acima do que separa e parte.
Respostas de 10
Ana querida,
Uma nova etapa cheia de alegrias, calor humano e descobertas significativas para todos vocês.
Beijo grande,
Dada
bonito!
Obrigada, Eduarda.
vc achou, anônimo?!
as mudanças sao muitas… muitas demais…. e grandes. mas se perdem pelas ribanceiras diversas e perversas…..do tempo em pensamento. carregar as coisas do ja foi e foi-se e foram-se possiveis palavras assadas nas saudades do que devia ser dito ou escrito que so no silencio reverbera e berra. talves do desencontro encontre a porta aberta e la sentada a esperança de um dia quem sabe o encontro seja geral e total. por isso espero com esperança desse dia chegar ar ar ar…
amo voces todos amem
Ana,querida
Muito bom! Belas imagens que ficam no dentro, no arquivo que espera pela próxima minha mudança, que sei virá em breve. Obrigada,mestra!
Beijoca com amor e LUZ,
Neca Terra
Querida Ana,
Prti-ida, a parte que não podes carregar fica. Fica dentro, vai contigo. Desejo de todo o meu coração que este seja o início da melhor parte de sua vida. Bons encontros e leves despedidas. De quem lhe admira muito. Denise
Não houve despedida para que não houvesse partida.
Tu continuas inteira em nossas vidas.
Muita sorte, sempre!
Antô.
Ana,
é com imenso respeito e felicidade que eu e minha família (tão, tão amada) entramos em sua casa.
Aqui nada é vazio, tudo é intenso…
E eu que estava apenas procurando um imóvel para alugar – veja só – acabei, assim sem convite mesmo, entrando nessa sua história.
As crianças estão em êxtase pelas inúmeras descobertas pela casa, pelo quintal, pela rua, pelo bairro. Cabe a mim, organizar e trazer um pouco de nós para esta casa, para que enfim possa reconhecer me nestas paredes também.
Incluo-te em meus bons pensamentos para que logo estejas acomodada em seu novo lar.
Um imenso abraço,
Caren Sarteschi
Querida Caren,
Eu só posso desejar que vcs sejam aí o tanto de feliz que nós fomos.
Beijo grande